Regular a imprensa é atentar contra a democracia

sexta-feira, 06 de abril de 2012

É muita pretensão o PT (partido dos trambiqueiros) se arvorar voz da sociedade e, com base num documento espúrio, convocar essa mesma sociedade a se mobilizar para defender o propalado marco regulatório da mídia. Quando foi oposição, aproveitando-se do que a imprensa noticiava de desabonador sobre seus adversários, o PT conseguiu seu objetivo principal que era a conquista do poder. Nessa ocasião a imprensa não incomodava, muito pelo contrário.

Começado o governo Lula, as falcatruas, a manipulação desonesta do dinheiro público, os escândalos nosso de cada dia começaram a ser noticiados pela mídia, no seu papel principal que é o de formador de opinião, de manter a sociedade informada do que ocorre no país, seja bom ou ruim. No entanto, para reeleger Lula era importante deixar a mídia em paz, pois ela era de importância fundamental para manter em alta a popularidade do presidente, sempre colocado à margem da banda podre do seu staff e, principalmente, porque os mentores da campanha da reeleição tinham consciência de que muitos dos empregados em rádios, jornais e televisão eram lulistas de carteirinha.

Lula conseguiu ser reeleito e aquele partido, que na oposição, se mostrou um ardoroso defensor da moralidade e da transparência, despiu-se da fantasia de cordeiro e mostrou sua verdadeira face. Os escândalos aumentaram, o congresso nacional sucumbiu de vez, com a perda do respeito e da credibilidade que deveria ostentar junto à população. Mas a popularidade do presidente continuava em alta, graças à imprensa e isso era importante para os planos políticos das eminências pardas do PT, entre eles, José Dirceu, já visando com um sucessor do próprio partido, a perpetuação do poder. As tentativas de amordaçar a imprensa ficaram ofuscadas pela percepção de que sem ela, a eleição da presidenta Dilma seria muito difícil, talvez impossível.

Dilma foi eleita, surpreendeu seus adversários, mas contrariou a cúpula do PT no momento em que mostrou não ser tão submissa como seu antigo chefe e discordar das orientações e das manobras de bastidores do partido. Nesse momento, com a mídia a seu lado, passou a ser uma preocupação real, pois suas medidas passaram a ser uma ameaça ao partido e a arranhar a imagem que Lula tentou forjar. Nesse instante, a imprensa passou a ser um estorvo daí a necessidade de se tentar cortar as suas asas, limitar sua ação. Aliás, presidenta, bote suas barbas de molho, pois a Sra. corre o risco de se ver envolvida em manobras escusas fabricadas, com o objetivo de derrubá-la. Para o PT, mais do que nunca, os fins justificam os meios.

José Dirceu foi militante de esquerda, teve participação importante em grupos terroristas, foi perseguido, preso e torturado pela ditadura de 64 entre outras coisas, por ser contra a suspensão dos direitos individuais, da liberdade de imprensa. O que se pode extrair de sua conduta atual é que ele sempre foi uma grande farsa e que sua militância, na realidade, era por não se conformar em ser carniça, queria estar por cima. Assim, a suposta faxina promovida pela presidenta Dilma, se por um lado reforça seu compromisso com a moralidade e com a luta pela inclusão social, pois as verbas desviadas para fins escusos poderiam ter outro destino, por outro lado aflora o mar de lama que foi a marca registrada do governo Lula e prejudica as pretensões de seu mentor.

Cabe a nós da imprensa mobilizar também a sociedade, em campanhas que mostrem o perigo que é uma mídia amordaçada, sem condições de divulgar os mandos e desmandos daqueles políticos mal-intencionados. Sem uma imprensa livre não existe democracia.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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