Quem somos nós?

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

É muito difícil responder a essa pergunta, pois ela suscita uma série de questionamentos sobre o que nos referimos. Mas, vamos tentar aguçar o raciocínio e procurar chegar a uma resposta satisfatória. Se nos referimos a um país sério, nunca o fomos, basta uma breve incursão nos últimos 12 meses. Tiramos do cargo uma presidente incompetente e a substituímos por um mais escorregadio do que óleo no asfalto. Michel Temer nomeou um bando de políticos que ou foram citados nas delações premiadas da operação lava-jato, ou partícipes de tramoias que não resistiram ao mais simples questionamento. Pelo menos três tiveram de ser substituídos. Por fim, repetindo sua antecessora, transformou Moreira Franco de secretário em ministro, para lhe dar foro privilegiado, caso seja transformada em investigação a denúncia de Claudio Mello Filho, um ex-vice-presidente da empreiteira Odebrecht. Mello cita-o por 34 vezes, referindo-se a ele como Angorá. Aliás, esse apelido lhe foi dado pelo ex-governador Leonel Brizola, quando Moreira o substituiu em 1986, no governo do Estado do Rio de Janeiro.

O Senado Federal trocou um presidente denunciado por outro que também tem sua conduta questionada pela maior operação anticorrupção que se tem notícia nesse país. Para finalizar, o recém-eleito presidente da comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, Edison Lobão, e mais dez membros dessa mesma CCJ também foram citados em delações premiadas passadas, presentes e, certamente, futuras. Todos, como de praxe, alegam serem inocentes, vítimas das intrigas dos invejosos.

Seríamos um povo civilizado? Difícil enquadrar a série de barbáries que assistimos estarrecidos, recentemente, como algo nascido de seres sociáveis. Chacinas em presídios, crimes estúpidos cometidos por seres incapazes de serem reconhecidos como Homo sapiens; greves de policiais, como a ocorrida no Espírito Santo, com mais de 100 assassinatos na sua esteira. Sem contar o carro que circulou no entorno do estádio Nilton Santos, atirando a esmo, no último domingo, 12, horas antes do jogo entre Botafogo e Flamengo. Isso resultou num morto e dois feridos à bala, fora as várias agressões provocadas pelas brigas das torcidas de ambos os times.

Sem tirar a razão daqueles que protestam pelo caos em que se encontra o estado do Rio de Janeiro, o modo como esse protesto é feito pode ser tudo menos a atitude correta de pessoas civilizadas. Os saques ao comércio e a destruição de agências bancárias são típicos de vândalos, bárbaros mesmo. Aliás, nosso estado é um retrato fiel da roubalheira desenfreada a que foi submetido desde a junção do finado estado da Guanabara com o antigo e bolorento estado do Rio de Janeiro. Após Faria Lima, não tivemos um que pudesse ser apontado como bom administrador. Para finalizar, o cacique Grande Pé, a meu ver, faz jogo de cena, pois com a Assembleia Legislativa que temos dificilmente medidas corretivas sérias e duradouras serão tomadas. Basta dizer que da prometida redução em 30% do efetivo estadual, só 7% foi alcançado.

Seríamos um povo abençoado por Deus? Só se Deus fosse um ser cego, mudo e destituído do senso da razão. Felizmente ele não o é, e se no passado fechou os olhos para as lambanças que fizemos, e foram muitas, agora cobra com juros e correção monetária a nossa incompetência. Passamos a ter tremores de terra, tufões, seca em locais antes impensáveis, intensificação da estiagem do Nordeste, chuvas torrenciais no Sul, Sudeste, Centro-oeste e Norte do país, inundações deixando a população desabrigada, principalmente a menos favorecida, enfim, a natureza se vinga do nosso descaso para com ela.

Afinal, quem somos nós? Acho que um povo que tem de se repensar, se assumir como cidadão responsável e passar a exercer a cidadania com seriedade. Enquanto permanecermos como uma nação esculhambada, em que o famoso jeitinho do brasileiro é idolatrado em verde e amarelo, jamais seremos reconhecidos com a seriedade que o Brasil merece.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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