Quando bate a solidão

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Terça-feira passada me deparei com uma situação jamais imaginada por mim; de repente me senti só, numa cidade estranha, de pouco mais de nove mil habitantes e sem nenhum ponto de referência, pois o meu italiano e nada é a mesma coisa. As únicas pessoas que conhecia e que poderiam me auxiliar, num caso de necessidade, tinham partido para a cidade do Porto, em Portugal, para um período de férias. A angústia e a solidão me fizeram rapidamente montar um roteiro, com o objetivo de viajar pelo menos uma semana.

O lago de Como estava na minha lista de lugares a visitar e foi para lá que resolvi partir, me instalando num hotel muito simpático, no pequeno vilarejo de Nesso. Aliás, várias são as cidades e vilarejos banhados por esse que é o terceiro lago da Itália, perde apenas para o de Garda (o maior deles todos) e o Maggiore. No entanto, é o mais profundo com seus 410 metros na sua parte mais funda; além disso, tem uma curiosa forma de Y invertido, em que cada braço tem sua cidade principal: a sudoeste Colico, a sudeste Lecco e ao norte Como.

A cidade mais importante, nos seus 146 km² de superfície é Como, da qual falarei num próximo artigo, pois merece uma visita à parte. É uma cidade situada na região da Lombardia, com cerca de 83000 habitantes, cuja história se inicia na idade do bronze e os primeiros vestígios de construções datam de 600 a 500 anos antes de Cristo.

Por causa de sua vasta extensão, foi criado um sistema de transporte público fluvial que faz a ligação de todas essas localidades, sendo que o ponto de partida principal é Como. Aliás, de lá partem, também, vários barcos de turismo, com trajetos e tempo de duração diferenciados. Para mim ficou mais fácil ir a Bellagio, um importante centro de turismo, com vários hotéis, restaurantes, praias e marinas situado a quinze quilômetros de Nesso. De lá peguei um barco de transporte público e fui visitar Lezzeno; o curioso é que de Bellagio partem também ferry boats em direção a Lezzeno e Mennagio.

Apesar de estar só, ainda, jantei os três dias que lá passei no restaurante do hotel, com um terraço dando para o lago e uma culinária italiana de primeira, sem falar no profiteroles e no tiramisu de dar água na boca só em pensar.

De Nesso fui para Sugiez, situada no cantão de Fribourg na Suíça. Aqui não foi um passeio propriamente turístico, pois o objetivo foi visitar um amigo que esteve hospedado em nossa casa, em 2010 e 2012. Infelizmente, ele esta com diagnóstico de Alzheimer confirmado desde 2013 e, segundo sua esposa, a deterioração mental está acelerada. Mas, como ele ainda se lembra das pessoas, resolvi transpor os 330 quilômetros que separam Nesso de Sugiez, para estar com ele enquanto ainda se lembra de Nova Friburgo e da nossa casa. André teve uma vida muito ligada ao futebol suíço e, na sua sala, tem uma fotografia do Pelé dos anos 70, com o uniforme da seleção brasileira, com dedicatória e autógrafo. Nos últimos anos ele era treinador de uma equipe de juniores, da cidade de Neuchatel.

Dia 10, faltando uma semana para o retorno da minha mulher, voltei a Castenedolo, de onde partirei para Roma dia 15, não só para uma visita à cidade eterna, como para recebê-la, no Aeroporto Leonardo da Vinci, no dia 18. Claro está que só respirarei aliviado, quando vê-la passar pela porta da sala de desembarque.

 

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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