Os deuses do futebol fizeram justiça

terça-feira, 15 de julho de 2014

O vexame da seleção brasileira, que levou dez gols em dois jogos e foi um arremedo de time de futebol, é um retrato fiel da comissão técnica que convocou e treinou nossos jogadores. Um técnico prepotente, defasado, teimoso, que conseguiu ofuscar nosso bando verde e amarelo ao achar, após nossa pior derrota em todas as copas, que o time jogara bem e os sete gols da Alemanha, sendo cinco em menos de 30 minutos, foram devidos a um apagão momentâneo, apenas um detalhe. Da Holanda tomamos três gols, talvez em função do desinteresse dos holandeses com aquele jogo.

Apesar de saber que não devemos misturar política com futebol, sempre achei que este último é o espelho de um país. Se olharmos o futebol alemão de hoje, fruto de uma transformação de peso após a derrota para o Brasil na final da copa de 2002, se compararmos a pujança da Alemanha de hoje com a mendicância atual do Brasil, coincidindo com a era PT, talvez futebol e política tenham mesmo muito a ver.

São mais que necessárias, no país, mudanças radicais na condução do esporte em geral e do futebol em particular, mas precisamos com urgência de uma virada na condução de nosso destino enquanto nação. CBF e federações que convivem há anos com a corrupção são um retrato de presidentes, governadores e prefeitos mal assessorados, além de um Congresso que é míope a muitas irregularidades. Aliás, quem faz vistas grossas para os "mal feitos” é, no mínimo, conivente. Essa é a ideia que muitos fazem de nossa presidenta quando ela finge não ver os escândalos protagonizados pelo PT. 

A anunciada criação da Futebolbrás, defendida pelo ministro dos Esportes, Aldo Rabelo, torna-se ridícula por dois motivos: sofreríamos sanções pesadas da Fifa, pois no seu estatuto é vedada a ingerência governamental nos destinos do futebol, e, o que é mais grave, as eleições na CBF e nas Federações estaduais fruto de conchavos políticos, passa pelo crivo do Palácio do Planalto. Diga-se de passagem, isso não é exclusividade do PT.

Melhor fez a Alemanha, que se preparou para ganhar mais um título mundial e, graças à justiça feita pelos deuses do futebol, sagrou-se campeã da XX Copa do Mundo, em terras brasileiras. Seguindo um planejamento semelhante, a meu ver, da melhor seleção brasileira já formada, a tricampeã de 1970, escolheram o local de sua base de acordo com o clima que aqui encontrariam, treinando inclusive no horário dos jogos. Construíram seu próprio centro de treinamento e um hotel para hospedar a delegação. Além de cativar a população local, participando do seu dia a dia, interagindo com ela na praia, presentearam as crianças de Cabrália, no interior da Bahia, com uma escola. Não é preciso dizer que o CT e o hotel foram também doados à população. Foi uma homenagem muito bonita à acolhida que tiveram.

Em 70, da mesma maneira, chegamos a Guanajuato, no México, bem antes do início da competição e nossos treinos também foram realizados no horário dos jogos. Além disso, tivemos uma acolhida fantástica pela população local, isso devido à simpatia dos nossos jogadores, craques já consagrados, como Pelé, Rivelino, Tostão, Gérson e Jairzinho, para citar alguns. Como os alemães de 2014, interagiram com os locais e ganharam a torcida mexicana após a eliminação do México, pelo próprio Brasil, como agora.

Nossos "craques” de hoje, nem sombra daqueles de 70, ficaram alijados do contato com a torcida, distantes de todos; não fosse Neymar, a frieza seria polar. Uma seleção nacional longe de sua torcida, ninguém merece.

Os alemães estão de parabéns, foram de fato os melhores, e a quarta estrela na camisa foi mais do que merecida. A lamentar apenas a eterna burrice da Fifa, ao premiar Messi como o melhor jogador da Copa. A meu ver, Robben jogou muito mais que ele.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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