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O povo perdeu de vez a paciência
A cidade do Rio de janeiro elegeu no último domingo, 30 de outubro, em segundo turno, Marcelo Crivella, bispo licenciado da Igreja Universal, como prefeito da cidade. Desculpe-me o novo alcaide carioca, mas não acredito em ex-bispo. É a mesma coisa que o cidadão dizer que é ex-Botafogo, ex-Flamengo, e por aí vai. A verdade é que no caso da Cidade Maravilhosa a escolha teve de ser entre o pior ou o menos ruim, tendo ganhado esse último.
Mas, as eleições para prefeito e vereadores no Brasil mostraram que a distância entre os políticos e os eleitores é cada vez maior. As abstenções, votos nulos e em branco somaram, na média, 32,5% do total em todo o país, sendo que no Rio de Janeiro, ao menos nesse segundo turno, foi a maior dos últimos anos, chegando à cifra de 41,5%. Ela foi maior do que os votos destinados a Marcelo Freixo, o segundo colocado.
Provando que nunca existiu golpe, que o povo não esqueceu uma das maiores traições que um partido possa ter infringido aos seus adeptos e que, mesmo o menos informado dos eleitores começa a pensar antes de votar, o PT sai como o grande derrotado das eleições 2016.
Ganhou apenas em uma capital, Rio Branco, no Acre, e viu seu tamanho encolher em 60,19%, conseguindo apenas eleger prefeitos em 264 cidades; nas eleições de 2012 foram 638. Depois de conseguir, em 2012, o terceiro lugar como o partido que mais elegeu prefeitos, em 2016 ele passa a ocupar o décimo lugar. Isso sem falar que nas cidades em que houve segundo turno, o PT não elegeu ninguém.
Nosso país necessita urgentemente de uma reforma política que faça desaparecer por completo o fosso cavado entre o eleitor e o político, ano após ano, gerando uma falta de sintonia entre ambos. Hoje, a população não respeita o homem público, pois tem certeza que, na grande maioria, são lobos travestidos de cordeiro. Na realidade, o fim único da eleição é a certeza de se tornar um homem rico.
Basta ver as declarações obrigatórias dos candidatos quando da sua primeira eleição, para as demais. Os ganhos em capital são astronômicos. A maioria jamais ostentaria a riqueza que desfruta se dependesse da respectiva profissão. Não podemos generalizar, mas é quase impossível encontrarmos um político que não tenha enriquecido à custa dos sucessivos mandatos.
A maioria da população é republicana e despreza ou ridiculariza a monarquia. No entanto, se fizermos uma análise fria dos fatos, os nossos presidentes tem mais poderes que os monarcas do passado, excetuando o início do primeiro reinado, quando D. Pedro I foi um monarca absolutista.
E, em Brasília hoje, a ostentação dos integrantes da “corte” republicana contrasta com a do primeiro e segundo reinados, verdadeiros mendigos se comparados com os atuais.
Os deputados e senadores, daquela época, trabalhavam nove meses por ano e só recebiam salários nesse período, não tinham décimo terceiro salário e décimo quarto nem pensar. O maior salário do país em 15 de novembro de 1889 era de 300 mil réis que dava para comprar 270 gramas de ouro. Transformando os valores de 15 de novembro de 1889 para hoje, o salário de um presidente, deputado ou senador deveria ser de R$ 270 x R$ 95,50 (cotação de hoje do ouro 18k) = R$ 25.785, sem os penduricalhos que ostentam como passagens gratuitas, carro, verba de gabinete etc. que mais que dobram o seu ganha-pão.
Sabemos que nossos políticos são tão caras de pau que não estão nem aí para essa percentagem importante de eleitores que viraram as costas para as eleições. Vão sempre encontrar uma desculpa, no Rio de Janeiro, por exemplo, culparão o feriado da última sexta- feira, 28 de outubro (dia do servidor público) quando muitos viajaram. Mas, deveriam fazer um exame de consciência, se é que a possuem, e mudarem a maneira de fazer política.
Se foram eleitos para representar o povo, que o façam da melhor maneira possível, que mostrem ao eleitor que o mandato não é para proveito pessoal, mas sim, para tentar melhorar a qualidade de vida daqueles que pagam impostos e que, na realidade, pagam os seus salários.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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