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O perigo de uma fake news virar verdade
Recebi uma matéria de um amigo de longa data, que achei muito interessante, e resolvi tornar pública nesta coluna. Mas, segundo aprendi nos bancos escolares da faculdade de Comunicação Social, toda informação deve ser apurada antes de ser transmitida ao leitor. Essa é a base de um jornalismo sério e de suma importância para que um veículo de comunicação, qualquer que ele seja, tenha a credibilidade que lhe é necessária.
Daí, que tive de abortar essa informação, pois na realidade ela, apesar de plausível, como o são todas as fake news, mostrou-se infundada e fruto de uma mente onde a inventividade está bem desenvolvida. Trata-se da origem da palavra “uai”, mineira por excelência e que marca um estado, um dos mais importantes de nosso país, Minas Gerais.
A história que me foi relatada diz que nos idos da inconfidência mineira, a maioria dos inconfidentes eram maçons e, para se esconderem da polícia imperial, as reuniões conspiratórias eram feitas nos porões das casas de Ouro Preto. Para serem reconhecidos, batiam por três vezes na porta e, quem estava dentro, respondia também com três toques; aí a pessoa do lado de dentro dizia a palavra “uai” e, se ela fosse repetida do lado de fora, a porta era aberta.
Na realidade tratava-se de uma senha cujo significado seria união, amor e independência. Uma história bem plausível, pois os três toques são típicos dos maçons, que se reconhecem através de uma palavra secreta que é trocada a cada três meses e só os maçons regulares a conhecem.
Para dar mais credibilidade a essa história, foi dito que tal matéria teria sido publicada no jornal Correio Braziliense e citava o nome de uma professora Dorália Galesso e de um dentista, Sílvio Carneiro, muito amigos do então presidente Juscelino Kubistchek, que os teria, na época, incentivado a pesquisar a origem da palavra “uai”.
Uma das coisas que me chamou a atenção foi que o nome do jornal estava grafado com “s” e não com “z” como é o certo; com a pulga atrás da orelha, liguei para a redação daquele periódico e fui informado de que tal artigo não teria sido publicado por eles. Liguei ainda para uma jornalista, professora da faculdade de Comunicação Social da Universidade de Brasília, que me alertou sobre a possibilidade de ser uma notícia falsa e me mandou um artigo, escrito por Hadinei Ribeiro Batista, da Universidade Federal de Minas Gerais, de Belo Horizonte-MG, sob o título “Origem de Uai: Uma Hipótese Caipira”.
Logo no resumo ele diz textualmente: O principal objetivo deste artigo é testar uma hipótese sugerida por Amaral (Amaral, A. “O Dialeto Caipira”. São Paulo: Hucitec, 1976) sobre a origem da famosa interjeição mineira “uai”. Para esse autor, a forma “uai” derivou de um processo de mudança fônica que se iniciou no vocábulo “olhai”, no falar de roceiros paulistas.
Outra possibilidade seria, também, um aportuguesamento da palavra inglesa why, uma vez que no eixo São Paulo-Minas da época, havia muitos ingleses por lá. Semelhante à expressão inglesa for all que por aqui virou forró.
Encontramos a seguinte explicação para o termo uai: Uai é uma interjeição utilizada particularmente no estado de Minas Gerais com o significado de dúvida, espanto ou surpresa. É um dos símbolos da linguagem e cultura mineira e um termo bastante utilizado para fazer referência aos mineiros. O termo dá nome a sites online com informações sobre Minas Gerais, a bares, a restaurantes e a diferentes eventos. Uai é também sigla de Unidade de Atendimento Integrado, que são unidades hospitalares localizadas em várias regiões da cidade de Uberlândia-MG. Não nos deparamos com nenhuma referência à Inconfidência Mineira.
Fica aqui a confirmação de que nem tudo que reluz é ouro e que se para um jornalista é obrigatório a checagem de uma notícia, para os leitores, nem que superficial, é bom investigar não importa que tipo de informação, para que o que é lido possa ser útil. Essa é a melhor forma de abortar as fake news, tão em voga nos dias de hoje.
Agora, que a falsa explicação sobre a origem da interjeição uai é bem plausível, não resta a menor dúvida. Uai!!!!!!!!!!!!!
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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