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O país do futuro um dia deixará de ser ficção?
Apesar de fazer um grande esforço para não ler notícias do Brasil, sobretudo aquelas ligadas à nossa política e ao nosso desenvolvimento econômico, muitas vezes me encontro no site globo.com e acabo passando os olhos nas desgraças nossas de todos os dias. É impressionante constatar que tudo o que era noticiado há três meses, quando cheguei à Itália, continua sendo destaque nas mídias brasileiras. A impressão que se tem, à distância, passa por duas observações: ou não existem fatos novos e na falta do que divulgar simplesmente se repetem as notícias, ou a incompetência é tal, que mesmo com as evidências mostradas pelas provas, não se consegue trancafiar os responsáveis por tanta podridão moral e financeira.
Podem estar certos de que todo o respeito que a mídia internacional dispensou ao Brasil, no início do primeiro governo Luiz Inácio, aliás, continuação do governo anterior onde a economia tupiniquim, depois de muitos anos se consolidou, foi por água abaixo. O mar de lama e de esgoto que contaminou a política brasileira desde 2002, os escândalos envolvendo deputados, senadores, empreiteiros, ministros e a tentativa esdrúxula de blindar o antigo e o atual presidente do país, nos devolveram à condição de país terceiro-mundista, republiqueta sul-americana que jamais conseguirá o respeito internacional. Chega a ser piada de muito mau gosto uma das figuras mais ridículas da política brasileira atual ameaçar voltar em 2018. Só se for para fechar, em definitivo, o caixão verde e amarelo.
Li, estarrecido, sobre a tentativa de reviver a CPMF, com a mesma conversa para boi dormir de que seria a salvação do SUS e da saúde pública nacional. Sei que o povo não é burro, apenas acometido de uma amnésia coletiva, mas não custa relembrar que daquele imposto que a sociedade brasileira teve de pagar, a maior parte do bolo foi para tapar rombos financeiros produzidos pela gastança sem limites do governo; na realidade só uma parcela ínfima foi destinada à saúde pública e, mesmo assim, sem critérios. Por falar nisso, se a contribuição é provisória, ela não poderia ser reinstituída após sua extinção. Uma atitude digna de um chefe de estado jamais seria enfiar mais um imposto goela abaixo da classe média brasileira. Seria sim, propor uma consulta popular (tão em moda pelos petistas) visando diminuir à metade os salários dos deputados e senadores, dos ministros, dos juízes do STF, da presidente, do vice e de todos aqueles que se locupletam das verbas federais. É vergonhoso oferecer 25% de aumento para o funcionalismo público, em quatro parcelas e dar de mão beijada 26% para a chefe, para o STF e para a classe política, de uma só vez. Será que esses beneficiados são tão indispensáveis para serem contemplados dessa maneira?
As nossas contas simplesmente não fecham por causa do mau uso do dinheiro disponível. O INSS vive de pires na mão por causa dos benefícios eleitoreiros pagos com o dinheiro do contribuinte. Se aposentadorias e benefícios fossem destinados apenas a quem contribuiu, o rombo seria muito menor. Mas, infelizmente, o Ministério da Previdência é useiro e vezeiro em fazer cortesia com o chapéu alheio.
A crise é geral e os países europeus não estão imunes a ela. No entanto, algumas diferenças são fundamentais para que a Europa consiga administrar o momento atual. Em primeiro lugar está a educação de base. Exemplo: fui ao Meeting International VW Cox, uma exposição de carros antigos Volkswagen como Fuscas, Karmanguias, TLs, Kombis, etc, na cidade suíça de Chateau d’Oex. Um garoto com pouco mais de 10 anos deixou um saco de pipocas cair no chão; de imediato ele o apanhou e jogou na lixeira mais próxima. Em segundo o conceito de cidadania em que o contribuinte acompanha e cobra o destino dado ao dinheiro dos impostos que ele paga. Em terceiro, a corrupção existe, mas é mantida em níveis suportáveis, pois os políticos têm consciência de que é burrice matar a galinha dos ovos de ouro. Além disso, os bens de consumo indispensáveis são mantidos a preços baixos para que a população tenha acesso; com isso, mantém-se o poder de compra e se garante a produção da indústria, primeiro passo para consolidar o parque industrial e abrir caminho para a exportação. Temos muito a aprender.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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