Colunas
O Estado do Rio na vanguarda da impunidade
O Estado do Rio de Janeiro está sempre na vanguarda do que há de pior no Brasil. Não bastasse ter quatro ex-governadores presos, um presidente da Assembleia Legislativa também recolhido aos costumes, ainda teve a petulância de dar posse a cinco deputados detidos, no dia 21 de março. E o que é mais grave, por ordem da mesa diretora, eles foram eleitos em outubro passado, mas por estarem presos, não puderam ir à Câmara para assumir o cargo; pela primeira vez na história daquela casa, o livro de posse saiu da Alerj e foi levado ao complexo penitenciário de Bangu, na zona oeste do Rio, e à casa de um deputado que cumpre prisão domiciliar. Aliás, isso contraria frontalmente o regimento interno daquela instituição, mas isso é apenas um detalhe.
André Corrêa (DEM), Luiz Martins (PDT), Marcos Abrahão (Avante), Marcus Vinicius Neskau (PTB) e Chiquinho da Mangueira (PSC) foram presos pela Polícia Federal em novembro de 2018, na Operação Furna da Onça, acusados de participar de um esquema de corrupção na Alerj. Em janeiro, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) autorizou Chiquinho a deixar a prisão e aguardar o trâmite do processo em prisão domiciliar. Mesmo assim, contrariando todo o bom senso e a decência, o presidente da casa, André Ceciliano, autorizou a posse dos meliantes. Eles não receberiam salários, não teriam direito a indicar auxiliares nem os penduricalhos inerentes a tal função. No entanto, seus suplentes seriam empossados.
A desculpa para tal desrespeito às normas vigentes na sociedade, era para atender o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), que determinou à Alerj a responsabilidade de empossar os eleitos e, também, para assegurar o cumprimento da Constituição Federal, que fixa a quantidade de 70 deputados para pleno funcionamento da casa legislativa.
Na última segunda feira, 8, a juíza Luciana Losada, da 13ª Vara de Fazenda Pública do Rio, determinou a perda de efeitos da posse, atendendo a uma solicitação do Ministério Público estadual (MP-RJ) que havia impetrado ação civil pública contra a decisão. O ministro da Justiça, Sérgio Moro, foi entrevistado pelo jornalista José Luiz Datena, no Jornal da Band e perguntado se acreditava que um dos efeitos da operação Lava-Jato, seria coibir a corrupção institucionalizada, respondeu que sim, pois as punições seriam um alerta para outros delitos.
No entanto, não é o que vemos, pois nossos políticos continuam os mesmos, escorados numa justiça morosa e, também, mal intencionada. Não fosse assim, os membros contumazes do STF não continuariam a distribuir habeas corpus, contrariando o bom senso e também escorados na impunidade.
É querer muito de nossos juristas, muitos deles comprometidos com o status quo vigente, mas algo tem de ser feito e urgente, pois não é possível que deputados federais, estaduais e senadores continuem a viver à margem da lei, como se esta só fosse aplicável a nós, simples mortais. Reclama-se muito da judicialização do Brasil, mas não fosse a ação de uma juíza, esses fora da lei estariam com um diploma de deputados estaduais debaixo do braço.
Vi e aplaudi o gesto do goleiro do Vasco, Fernando Miguel. No último domingo, 7, no jogo contra o Bangu, ele foi avisado que um torcedor mirim tinha pedido a sua camisa. Assim que o juiz apitou o final da partida, ele correu em direção às arquibancadas do Maracanã e doou sua camisa. E, completou seu gesto dizendo para o repórter que além de atleta, ele era um espelho para as novas gerações. Que isso sirva de exemplo para esses verdadeiros vendilhões do templo.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário