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O dia em que experimentei carne de canguru
Quinta feira passada, 26 de setembro, me aconteceu um episódio totalmente inesperado. Saímos de casa para visitar o Cirque de Saint Même, uma cachoeira linda, a 1450 metros de altura, na região da Savóia, onde está Chambéry. Pegamos a direção correta, mas a um determinado momento, soubemos que a estrada estava interrompida; demos meia volta e nos perdemos. Depois de muito rodar, deparamos com a indicação do Lago de Panadur e resolvemos visitá-lo.
Essa região tem muitos lagos e esse é tão bonito como os outros, com suas águas azuis como as das praias de Cabo Frio, mas mesmo no outono, muito mais quentes. Deveriam estar na casa dos 23 graus, segundo um frequentador do local. Mas, como já estava na hora do almoço, encontramos um restaurante muito simpático e paramos para almoçar. Eles tinham três tipos de pratos, o buffet que dava direito, também, a uma sobremesa; o completo que consistia do buffet e do prato do dia e o prato do dia.
Como a Oneli não gosta de carne, ela optou pelo buffet e eu, pelo prato do dia, que consistia de batata dauphinoise (uma porção de batata com creme) e ensopado de canguru; aliás, minha escolha foi exatamente por causa disso: eu na França, comendo carne de um marsupial típico da Austrália. É uma carne saborosa, um pouco adocicada, que lembra um pouco a carne de cervo ou a de cavalo, as quais nós, no Brasil, também não estamos acostumados. Minha escolha foi agradável e me despertou a curiosidade.
A Europa importa muito dessa carne, sendo a Bélgica sua maior consumidora europeia e mundial, responsável por 27,5% da exportação australiana. A de canguru é obtida ou através da caça ou da criação em cativeiro, mas como o animal é considerado endêmico no seu país a sua caça está liberada durante um determinado período. Hoje, como esses marsupiais têm o status de animais protegidos, ela foi regulamentada.
Nos últimos 30 anos, cerca de 90 milhões de cangurus foram mortos. Atualmente, como o número diminuiu muito, a Austrália criou regras mais restritas para sua caça, sendo proibido matar fêmeas com canguruzinhos na bolsa marsupial. O problema é que como ela é realizada à noite, é muito difícil distinguir o sexo dos animais e se estão com cria, no caso das fêmeas. A legislação prevê um tiro na cabeça o que, também, à noite, fica complicado. Hoje em dia, as estatísticas mostram cerca de um milhão e meio de cangurus abatidos por ano. Os australianos costumam comer carne de canguru pelo menos quatro vezes por ano.
Mas, existe um problema para o consumo humano dessa carne. Ela é rica em E.coli e Salmonela; por isso elas sofrem um tratamento com acido acético e ácido láctico. O primeiro para matar esses agentes, o segundo para encobrir o uso de ácido acético, cujo uso é proibido na Europa. A Rússia, por exemplo, desde 2014, proibiu a sua comercialização. Eu só soube disso quando comecei a escrever esse artigo e entrei no google.fr para obter informações para desenvolvê-lo.
Mas, não me arrependo, pois foi uma experiência nova e afinal o temor de sair pulando nas patas traseiras, como um canguru, não aconteceu. Ainda bem. Aliás, o consumo de carnes exóticas, na França, vem ganhando espaço e as grandes cadeias de supermercados já começam a disponibilizá-las em suas gôndolas.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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