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O clássico do dilúvio
quarta-feira, 25 de março de 2015
O clássico do último fim de semana no Maracanã, entre Vasco da Gama e Flamengo, conhecido também como o clássico dos milhões ficou interrompido por 50 minutos. Estava-se ainda no primeiro tempo do jogo quando se abateu sobre o Rio de Janeiro um verdadeiro dilúvio. Em poucos minutos o gramado do estádio virou um enorme piscinão, tornando-o impraticável para jogos de futebol. Aliás, o primeiro gol, marcado pelo Flamengo, foi fruto dessa impraticabilidade, pois a bola devolvida com as mãos pelo goleiro do Vasco parou numa poça d’água, facilitando o trabalho do atacante Alexsandro do Flamengo que finalizou para o gol praticamente vazio.
De acordo com informações prestadas pelo consórcio que administra o estádio, o transbordamento do Rio Maracanã — e o consequente alagamento da região — foi o responsável pelo ocorrido. Para o colunista esportivo Renato Maurício Prado, o problema é decorrente do fato do gramado do estádio estar abaixo do leito do rio, o que dificulta o trabalho de drenagem. Por sinal essa foi perfeita, pois tão logo a tempestade amainou, o alagamento cedeu e o jogo pôde ser reiniciado sem maiores problemas.
O que me chamou a atenção nesse episódio foi o paralelo a ser traçado com a Holanda, ou Países Baixos, cujo nome advém do fato de cerca da metade do seu território ficar a menos de um metro do nível do mar; além disso, um quarto de suas terras está de fato abaixo dele, sendo protegido contra as inundações por diques e paredões. Essa obra de engenharia começa no século XIV quando parte do que é hoje a Holanda estava submersa.
A introdução dos moinhos de vento, símbolo do país, trouxe a tecnologia necessária para drenar enormes áreas alagadas — as grandes pás captavam a energia do vento e com ela acionavam bombas de sucção. Isso, aliado à construção de diques, permitiu o aumento do território habitável. Em janeiro de 1953, os diques que protegiam o sudoeste do território holandês se romperam após uma violenta tempestade, combinada com marés altas. Cerca de 150 mil hectares de terra foram inundados e 1.800 pessoas morreram. Aliás, 13 anos antes, quando da invasão alemã na Segunda Guerra Mundial, o governo holandês cogitou em detonar esses diques, o que mataria grande parte do exército invasor barrando assim a ocupação do país.
Voltando ao estádio do Maracanã, é estranho o fato do transbordamento do rio ter causado tantos transtornos ao evento esportivo, afinal, trata-se de um espaço de aproximadamente 11 mil metros quadrados enquanto a Holanda tem 41.526 km², dos quais pelo menos 10.385,5 km², como já visto, abaixo do nível do mar. Isso nos leva a pensar num erro de projeto, pois a drenagem foi perfeita a partir do momento em que a chuva parou e o rio baixou; ou o know how holandês é muito superior e, talvez, devesse ser consultado para possíveis correções, o que evitaria alagamentos futuros.
Temos de levar em consideração que em agosto do ano que vem o Maracanã será palco das cerimônias de abertura e encerramento das Olimpíadas, pela primeira vez em solo sul-americano. Apesar de não ser um mês com altos índices pluviométricos, todo cuidado deve ser tomado para que não paguemos um grande mico; já basta os 7 a 1 nos imposto pela Alemanha, durante a Copa do Mundo do ano passado. Como o tempo está completamente fora de controle, em razão das agressões ambientais promovidas pelo homem, um temporal em agosto, como o de domingo passado, não seria de se estranhar, e venderíamos uma imagem muito negativa de nossa capacidade em promover grandes eventos, ou pelo menos de conviver com as intempéries.
Mas, como após as tempestades sempre vem a bonança, com a vitória do Flamengo por 2 a 1, o Botafogo reassumiu a liderança do campeonato do estado. Foi uma chuva muito bem-vinda.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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