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O CFM sai em defesa do respeito ao médico
terça-feira, 06 de agosto de 2013
Foi noticiado no jornal O Globo de domingo, 21 de agosto: "O Conselho Federal de Medicina (CFM) entrou com uma ação civil pública contra a União para suspender o programa ‘Mais Médicos’”. O Conselho questiona a possibilidade de trazer médicos formados no exterior sem passar pela revalidação do diploma e sem a comprovação do domínio da língua portuguesa. O CFM prometeu para os próximos dias novas ações judiciais atacando outros pontos do programa.
Alias, não poderia ser outra a atitude tomada pela entidade que regulamenta a profissão médica a nível nacional. Mantidas as mesmas condições de trabalho que são oferecidas aos médicos brasileiros, no interior do país, tal medida além de ineficaz soa como eleitoreira. Há municípios no Brasil em que o médico só teria à disposição sua experiência e seu conhecimento, pois faltam exames básicos, tanto radiológicos como de laboratório, e uma farmácia com o mínimo de medicamentos de primeira necessidade. Mas o pior e prejudicial será se o profissional de fora não for fluente no português falado no Brasil; isto pode ocasionar interpretações não condizentes com a realidade e danosas para a saúde do indivíduo. Já pensaram se um médico português exigir que seus clientes entrem na bicha para serem atendidos? O mal-estar seria grande, pois bicha no português de Portugal significa fila.
Digo mais, já que o governo brasileiro esta brincando com coisas sérias, por que não convocar pastores de uma seita evangélica que em dia e hora marcada fazem cegos enxergarem, paralíticos andarem e, de quebra, cura tumores cancerígenos, num programa televisivo, transmitido ao vivo?
O que me causa espanto e asco ao mesmo tempo é ver um governo composto de ex-revolucionários, cujo objetivo em 1960 era melhorar as condições de vida do povo, querer fazer esse mesmo povo de trouxa e, ainda por cima, implantar um regime autoritário, disfarçado de democracia. Sim, porque essa MP nada mais é que passar por cima da legalidade, rasgar a constituição e impor a vontade de uma ex-ativista que vivenciou no passado as agruras de um regime de exceção. Quis o destino que ela se tornasse presidente desse mesmo país, que julgávamos sério.
Além do mais, essa medida ainda abre um sério precedente, pois se faltarem generais, engenheiros, advogados, professores, basta trazer do estrangeiro? Que tal importarem também políticos sérios cujo objetivo primordial seja legislar para a coletividade e não em causa própria?
Com a popularidade crescendo como o rabo de um cavalo, ou seja, para baixo, vale qualquer coisa para tentar voltar aos níveis das pesquisas de três meses atrás: 75% da intenção de votos. Mas isso se torna impossível à medida que o brasileiro deixa de ser presa fácil de promessas demagógicas e se faz respeitar como cidadão que paga um dos impostos mais caros do mundo.
O desrespeito àquele jovem que um dia prestou um dos mais difíceis vestibulares, estudou durante seis anos, além de mais três ou quatro de especialização, é flagrante. Num passo de mágica, médicos de fora, com preparo muitas vezes duvidoso, não precisam prestar um exame que comprovaria sua aptidão para exercer com dignidade uma profissão que lida com a vida humana. Isso sem falar na barreira da língua, dos termos regionais muitas vezes a confundir quem é brasileiro nato.
Para terminar: um médico brasileiro teria o mesmo privilégio lá fora?
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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