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A morte estúpida de um ser humano
Eu concordo com o coronel Washington Lee Abe, da polícia do Paraná, quando fez a seguinte observação: "porque transformar alguém em mártir? e quando morremos tentando salvar uma vida inocente?". O assassinato da vereadora carioca Marielle foi um crime bárbaro, como muitos outros que acontecem no Rio de Janeiro. Na mesma noite, foi morta uma médica numa tentativa de assalto; a doutora Gisele Palhares Gouvêa levou dois tiros na cabeça, na Linha Vermelha. No entanto, o destaque dado a essa morte foi nenhum. Médicos assassinados não aumentam audiência de jornais televisivos nem a tiragem de jornais.
Mas, isso não é motivo para transformar a vereadora em mártir, a não ser por interesses partidários. O Rio é vítima do desgoverno de muitos anos seguidos, onde muitos dos governadores foram eleitos comprando votos a peso de ouro, de uma parcela da população politicamente aculturada e comprometida. Nenhuma sociedade aguenta a mistura de incompetência administrativa e má utilização do dinheiro público.
O resultado aí está. Não interessa se Marielle era negra, oriunda de favela (detesto essa frescura do termo comunidade), pobre, bissexual (como ela mesmo se intitulou) etc. Ela na verdade era uma cidadã que se destacou ao concluir um curso universitário numa instituição respeitada, a PUC-Rio, ter pós-graduação e ter sido o quinto vereador mais votado, mesmo sendo sua primeira eleição. Portanto era uma pessoa capacitada.
O fato de ser vereadora também pouco importa, pois antes de tudo era uma cidadã. Aliás, não nos devemos esquecer que ela passa a ser mais um número nas macabras estatísticas de óbitos do Rio, como o foi também a juíza Patrícia Acioli e muitos outros. Ambas importantes em suas respectivas áreas de atuação.
Sinto asco, ânsia de vômitos quando vejo políticos se aproveitarem desses fatos que degradam a raça humana, para fazerem campanha partidária. O Rio de Janeiro tornou-se uma cidade inviável e só uma intervenção militar, que imponha a ordem e a disciplina que falta a uma grande parcela da população, pode restaurar a decência e plenitude da cidadania. Militar porque são treinados para respeitar essas virtudes.
Agora que uma defensora ferrenha dos direitos humanos se foi, espero que as pessoas que militam nessa área se irmanem e defendam todos os cidadãos que são mortos de maneira cruel, onde se incluem, também, os policiais, nunca lembrados e pranteados por essas organizações.
É preciso que as forças de segurança (polícias Civil, Federal e Militar) atuem em conjunto e consigam esclarecer o motivo dessa morte sem sentido, se é que morrer faça sentido, no mais breve período de tempo. Para crimes políticos, vingança ou acerto de contas, uma motivação deve haver. O que não pode é o aparecimento de conjecturas, como já surgiram, que venham denegrir a imagem de Marielle. Uma delas alegou que seu assassinato se deu em função do não cumprimento de promessas feitas ao PCC (Primeiro Comando da Capital), quando de sua eleição. Ou seja, sua eleição foi financiada pelo crime organizado, mesmo quando se sabe que seu maior reduto eleitoral não foi Acari, onde nasceu e sim bairros da zona sul, como Ipanema e Leblon. Boatos são perversos e capazes de manchar pessoas para sempre. Imagine de quem não pode mais se defender.
Lembro-me de que quando se começou a pensar no fim da ditadura de 1964, em pleno governo de João Figueiredo, a ala radical do regime fabricou o atentado do Rio Centro, na tentativa de culpar a esquerda e frustrar a distensão. A emenda foi pior que o soneto, com a volta da democracia ao final do mandato do último general presidente. Façamos votos para que essa intervenção atinja os seus objetivos e essa morte precoce seja o início de uma mudança radical, com o estado de normalidade sendo restabelecido. Matar Marielle pode ter sido um tiro no pé disparado pela bandidagem ou por quem quer que seja.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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