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Medicina pública: uma chaga nacional
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
Na visão dos políticos o povo, como na antiga Roma, precisa de pão, vinho e circo; enquanto se divertem esquecem-se dos problemas do quotidiano e da incompetência ou má-fé dos nossos mandatários. Só que para frequentar o circo e ter acesso ao vinho a turba tem que ter saúde e é nesse momento que surgem os problemas.
Na visão distorcida dos nossos políticos, saúde é um artigo de consumo apenas em anos eleitorais, quando as promessas fazem crer no “agora vamos”. Assim haveria a tão esperada diminuição das filas na frente dos ambulatórios, das vagas para internações seja em enfermarias, seja nas UTIs, e as dificuldades na marcação de cirurgias seriam coisas do passado. No nosso dia a dia, a realidade é bem diferente e a cada ano que passa as mazelas da população aumentam.
É de estarrecer fatos recentes como o propalado show de Gilberto Gil e Steve Wonder, nas areias de Copacabana, ao custo de seis milhões de reais, dinheiro esse que dava para pagar 3.750 médicos. Em Fortaleza, o governador Cid Gomes contratou Ivete Sangalo ao preço de R$ 650.000,00 para a inauguração de um hospital municipal. Já em Maricá, enquanto os médicos reclamam do atraso no pagamento de seus salários, o alcaide local vai gastar cerca de R$ 350.000,00 para animar o carnaval, com a contratação de Diogo Nogueira, Martinho da Vila e Neguinho da Beija-Flor.
Mas, os culpados das mazelas da saúde pública brasileira são sempre os médicos. Em dezembro, o neurocirurgião Adão Gonçalves foi crucificado pela mídia por não ter comparecido a um dos vários plantões que faltou no Hospital Salgado Filho e com a consequente omissão de socorro à menina Adrielly Santos, baleada na cabeça, na noite de Natal. Para mim sua grande culpa foi ter feito um concurso em que o salário era pouco mais do que aquele pago a um gari (nada contra esses importantes servidores) e, o que é mais grave, ter tomado posse. No entanto, esquecem de que o hospital tem um chefe de equipe, um diretor e o município tem um secretário de saúde; providências já deveriam ter sido tomadas e neurocirurgião há muito já teria sido demitido. Não se pode deixar de citar o Sindicato dos Médicos conivente com esse salário aviltante e o prefeito Eduardo Paes capaz de gastar seis milhões de reais com um show e negar um salário digno aos profissionais de saúde. Na realidade são todos mal remunerados, numa atividade que é de suma importância para a população.
Para fechar o descalabro de como a saúde é tratada, a Frente Nacional de Prefeitos está propondo a contratação de médicos estrangeiros para trabalhar nas cidades do interior do Brasil. Ora, trazer médicos de fora, não familiarizados com a língua portuguesa, com os termos regionais e com os costumes da população interiorana, é típico de quem raciocina amadoristicamente e que não tem o mínimo preparo administrativo. Não existe falta de médicos para trabalhar no interior do Brasil, o que falta é condição para o exercício adequado da medicina, com a garantia de uma atualização constante e uma remuneração condizente com a formação desse profissional. Um fator a mais a ser levado em consideração, também, é o fato de o médico estrangeiro, apesar de desempregado, ter um salário muito melhor que o similar nacional. Eles aceitariam esse tipo de trabalho?
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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