Mais um desastre ecológico em Minas Gerais

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Quando digo que o Brasil é um país de brincadeira, do faz de conta, da irresponsabilidade, pode parecer estranho. No entanto, quatro anos se passaram do rompimento da barragem de Mariana, considerado o maior desastre ambiental do país, com saldo final de 19 mortos e eis que, também em Minas Gerais, na tarde da última sexta feira, 25, o fato se repetiu. A tragédia que já conta com 37 mortos, na cidade de Brumadinho, ocorreu na barragem da Mina do Feijão, de extração de minério de ferro, da companhia Vale do Rio Doce (sempre ela). De acordo com o Corpo de Bombeiros cerca de 290 pessoas estão desaparecidas.

O que chama a atenção dessa vez, é que a represa do Feijão estava desativada desde 2015, ou seja, se as que estão em atividade têm uma conservação precária, imaginem aquelas que estão sem função, como é o caso atual. Agora, a população ribeirinha da cidade está sendo evacuada, pois existe o risco de rompimento de mais uma barragem do complexo da Vale, naquela localidade.

O descaso das autoridades com o cidadão, em nosso país, beira o escárnio total, pois em Mariana, as vítimas da tragédia de 2015 ainda não foram indenizadas, seja pelas perdas materiais, seja pela perda de parentes. Esse é um trauma que dinheiro nenhum vai compensar. Foi patética a fala do presidente da Vale do Rio Doce, pouco depois do ocorrido, ao dizer que o dano ambiental dessa vez teria sido menor. Esqueceu que o número de mortos, até agora, é o dobro do de Mariana e que provavelmente será muito maior. Em relação a essas vidas, medida nenhuma vai trazê-las de volta.

Para corroborar o nível de irresponsabilidade que cerca o Brasil, em dezembro de 2017 o secretário do Meio Ambiente de Minas Gerais, Germano Luiz Gomes Vieira, assinou uma norma que alterou os critérios de risco de algumas barragens, o que permitiu a redução das etapas de licenciamento ambiental no estado. A medida possibilitou a Vale acelerar o licenciamento para alterações na barragem da Mina de Córrego do Feijão, que rompeu semana passada.

Aliás, deve-se ter muito cuidado ao alterar normas pré-estabelecidas, pois muitas delas são embasadas por estudos técnicos de pessoas capacitadas. Nem sempre o afrouxamento de tais medidas segue a mesma linha, muito pelo contrário, pois vão na direção de reduzir custos e aumentar lucros. Germano Luís foi nomeado por Fernando Pimentel (do PT), governador mineiro que deixou o cargo, após as eleições de 2018.

Por isso Jair Bolsonaro deveria rever sua medida de alterar o Ministério do Meio Ambiente, pois na realidade esvaziou a pasta ao transferir para outros órgãos, setores de competência dele como o Serviço Florestal e o setor de Recursos Hídricos entre outros. Na realidade, a supervisão as barragens deveria passar por esse último, pois são uma ameaça constante à contaminação deles. A afirmação de que a agricultura por si só se preocupa com o meio ambiente, é falsa, pois o agro negócio como o próprio nome indica é um negócio e visa o lucro. Se tiver de comprometer o meio ambiente o fará com a maior desfaçatez. Aliás, como deveria ocorrer com todo chefe de estado, na manhã seguinte ao rompimento, Bolsonaro estava na cidade de Brumadinho, para dar apoio às famílias atingidas e providenciar ajuda do governo no que fosse preciso.

A tragédia atual e a de quatro anos atrás mostra o quanto o meio ambiente no Brasil é negligenciado e, o que é mais grave, o quanto se menospreza a vida humana, que passa a ser encarada como um mero acidente biológico. A segurança e preservação da vida de cidadãos de qualquer país são, ou deveriam ser o objetivo maior dos governantes, pois são eles com a sua mão de obra, com o pagamento de impostos e com o consumo do dia a dia que movimentam a economia.

O que assistimos em Mariana e agora, em Brumadinho, é um total descaso para com a integridade dos cidadãos. E o que é pior, com o total desprezo que temos pela conservação, não importa em que setor, outras tragédias acontecerão.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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