Lições de uma eleição

terça-feira, 07 de outubro de 2014

Três constatações são dignas de nota nas eleições de domingo: a primeira advém do fato da vitória esmagadora da atual presidente nos estados do Nordeste. Segundo José Casado, de O Globo, "ganhará no segundo turno quem for capaz de seduzir um eleitorado, cuja maioria (56%) sobrevive com renda individual na faixa de R$ 320 a R$ 1.120 por mês”. Isso quer dizer, onde o clientelismo do PT é mais forte, pois a Bolsa-Família é o esteio de muitas famílias. Aliás, seja com a seca, seja com a fome, o nordeste brasileiro sempre foi o ganha-pão de incontáveis políticos matreiros a explorarem, com mestria, a desgraça do seu semelhante; não interessa a esse tipo de político resolver os problemas, e sim administrá-los. Para quem ganha um pouco mais do que o salário mínimo, os problemas do país contam muito pouco; o importante será sempre fazer o estômago parar de roncar. 

A segunda constatação resulta, diria eu, do perigo representado pelas pesquisas eleitorais. A última delas, publicada no sábado, dava Dilma com 46% dos votos, Aécio com 24% e Marina com 21%. Ao final da apuração, a presidenta ficou com 41%, o senador mineiro com 33% e Marina com 21%. Das duas uma: ou o eleitor é muito sacana respondendo uma coisa ao entrevistador e fazendo outra, no escondido da cabina eleitoral, ou os institutos de pesquisa manipulam as informações para confundir o eleitor. Corre no Facebook o desabafo de um cidadão que foi consultado, por telefone, por um dos institutos de pesquisa. Quando este disse ser universitário, o entrevistador desligou dizendo que o seu nível intelectual não se encaixava no universo a ser pesquisado. Talvez a meta fosse os de baixa renda, usuários da Bolsa-Família, onde o voto no PT é líquido e certo. O problema é que muitos se deixam influenciar pelos resultados dessas enquetes e, por não serem politizados, são enganados com facilidade. Muito emblemático é o ocorrido no Rio Grande do Sul, onde José Ivo Sartori, no sábado, tinha 29% da intenção de votos e no final da apuração obteve 40%, deixando o petista Tarso Genro com apenas 32%, quatro pontos abaixo do previsto na véspera. É no mínimo muito estranho.

A terceira constatação é o elevado número de abstenções, votos nulos e em branco, num total de quase 30% de eleitores, que não se deixaram seduzir pela "maior festa da democracia”. Deve servir de alerta à classe política brasileira, pois reflete o grau de insatisfação de uma parcela não desprezível da sociedade, com o desempenho dos nossos "representantes”. Mostram como a classe política está desprestigiada, e em queda no conceito de uma parcela importante dos eleitores. Não tenho medo em afirmar que esses eleitores expressaram sua repugnância aos caminhos escolhidos pelo PT, nesses 12 anos de governo. No entanto, a soma dos votos em Aécio e Marina são superiores ao da atual presidente, e isso também pode refletir essa insatisfação. São votos a serem explorados pelos candidatos a governador não eleitos no primeiro turno e, principalmente, por Aécio. Esses sufrágios perdidos podem pesar na balança do segundo turno.  

Para concluir, não poderia deixar de parabenizar Glauber Braga, reeleito para deputado federal com mais do dobro dos votos da eleição de 2010, apesar da campanha contra ele. Se fosse tudo aquilo que espalharam, ele jamais teria obtido 82.236 votos. Meus votos de felicidade e sucesso vão também para Wanderson Nogueira, meu colega da faculdade de Comunicação Social da Universidade Cândido Mendes. Do alto de seus 20.073 votos, em sua segunda eleição, já que é vereador, mostrou que competência, trabalho sério e humildade ainda são os ingredientes mais importantes para se ganhar uma eleição.

Friburgo precisa de vocês, pois nenhum município progride sem representantes no Congresso Nacional e na Assembleia Legislativa. 


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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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