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Liberté, égalité, fraternité
quinta-feira, 08 de janeiro de 2015
Quando um país aceita que uma minoria imponha seus hábitos e religião; quando um país faz com que sua população conviva com o risco de ser taxada de xenófoba ou racista ao tentar manter o respeito a sua cultura e tradição; quando um país insiste em seguir ao pé da letra preceitos antigos, mas que no mundo de hoje têm de ser atualizados, corre o risco de perder a identidade e sofrer as consequências dessa escolha.
Infelizmente é o que acontece com a França de hoje, ainda atrelada ao seu famoso lema de Igualdade, Fraternidade e Liberdade. O atentado de quarta-feira, em Paris, perpetrado em nome de Alá, contra o jornal Charlie Hebdo e que teve o sinistro balanço de 12 mortos e 11 feridos é uma prova cruel de que conceitos devem ser revistos.
Igualdade deveria ser para todos, desde que respeitados os costumes locais. Quando o ex-presidente Nicolas Sarkozy baixou o decreto proibindo véus e burcas, na França, muitos franceses que hoje lamentam esse cruel atentado lhe caíram em cima, com paus e pedras. Esqueceram que a França não é muçulmana e se esses hábitos são comuns a essa fatia de imigrantes, que o façam dentro de suas casas e não em praça pública. Aliás, os incomodados que se mudem, ou seja, se não estão satisfeitos, que voltem para os seus países de origem. Já pensaram se os naturistas resolvessem andar comme il faut, ou seja, nus, nas ruas de Paris?
Fraternidade é o que os fundamentalistas nunca souberam o significado. Esse vocábulo pressupõe a boa convivência, mesmo que as opiniões sejam opostas por completo. Outro ser humano é meu irmão, independentemente de sexo, raça, credo ou escala social. Todos estão debaixo do mesmo firmamento, sujeitos a todos os tipos de acontecimentos e é a sensação de proximidade entre nós que nos conforta nos piores ou melhores momentos. Que diabo de fraternidade é essa desses bárbaros que matam em nome do Profeta, por causa de preceitos que só aos seguidores do Islamismo interessam?
Legalidade é o xis da questão, pois a vida em sociedade pressupõe regras que são impostas pela própria sociedade. Daí a existência, nas grandes democracias, de um poder executivo, legislativo e judiciário, que não são independentes, mas interdependentes nos destinos dessa mesma sociedade. Lógico que a maioria dos países árabes é composta de ditaduras disfarçadas, escancaradas ou sultanatos e califados onde a lei é apenas um detalhe, já que é imposta por um único poder. Mas, mesmo nesses países, o conceito de legalidade, embora capenga, existe e é respeitado. O que esses três bárbaros fizeram é um ato ilegal e que desafia os poderes constituídos.
Os socialistas que me desculpem, mas essa forma de governo, de conduzir a sociedade, é a pior possível, pois é muito mais permissiva com a classe "desfavorecida” e muito mais severa com a classe média. Na França, fui advertido por amigos franceses de que moderasse a língua, pois se falasse algo que desagradasse um árabe e fosse ouvido por um francês que fizesse parte da comissão de defesa dos imigrantes, eu poderia ser admoestado e multado. O medo de ser taxado de racista ou xenófobo suplanta toda e qualquer racionalidade.
Apesar de ser de extrema-direita, o que pressupõe também ser radical, o discurso de Marine Le Pen se torna coerente na atualidade, uma vez que pretende devolver à França o direito de fazer valer sua identidade e impor aos imigrantes respeito aos hábitos e costumes do país. Aliás, se esses não fossem de grande valor, jamais a França teria chegado onde chegou no passado, quando inclusive o francês era a língua universal.
Meus pêsames aos familiares dos nove jornalistas brutalmente assassinados no exercício de sua profissão, aos dois policiais também mortos em serviço e a um mortal comum, como eu ou você, que nada tinha a ver com o problema. Que esse atentado sirva para reflexões, para mudanças de conceitos e mentalidade. Árabes e muçulmanos íntegros deveriam fazer uma campanha para banir esses verdadeiros irracionais, que no fundo denigrem todo um povo.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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