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Greve de policiais: uma ameaça à ordem pública - 14 de fevereiro 2012
A greve dos policiais militares do Estado da Bahia, com mais de uma semana de duração, e a dos policiais e bombeiros do Estado do Rio de Janeiro, deflagrada à meia-noite do dia 9 de fevereiro, deveria despertar uma grande reflexão da sociedade brasileira. Antes de crucificarmos esses policiais deveríamos atentar para seus salários, para a importância que desempenham na manutenção da ordem pública e, mais importante, para a grande disparidade dos vários níveis de salários entre as classes assalariadas do Brasil.
Na Bahia, o salário de um soldado de primeira classe (SD 1ª CL)—o posto mais baixo da hierarquia—é de R$ 2.557, enquanto que no Rio é de R$ 1.137. Aliás, em nosso estado, os iniciantes tanto na polícia militar quanto na polícia civil e corpo de bombeiros ganham menos de R$ 1.300. Convenhamos é um salário insignificante, degradante mesmo para o tipo de risco que tais profissões acarretam.
Enquanto isso, os deputados estaduais do Rio recebem R$ 20 mil reais por mês, não incluídos nesses valores o carro e o combustível, a verba de gabinete, as passagens aéreas, as despesas com correios, plano de saúde, etc. Deputados federais e senadores recebem R$ 26,7 mil reais a título de salário, sem contar os acréscimos semelhantes aos dos estaduais. Os vereadores de nosso município ganham R$ 7.300 reais. Na mesma linha de raciocínio temos um médico do SUS, em Nova Friburgo, ganhando R$ 1.200 reais para uma jornada de vinte horas semanais; um professor da rede municipal R$ 740 reais e os do estado R$ 1156 reais.
Um simples olhar para esses valores mostra uma disparidade enorme, em torno de 20 vezes, que não encontra a menor justificativa, ainda mais quando se leva em consideração o fato de médicos, professores e policiais serem obrigados a prestar um concurso público, se reciclarem periodicamente seja para melhorar o nível de atendimento à população seja para almejar promoções. Por outro lado, com uma boa verba, muita lábia e, o que é mais importante, uma cara de pau bem conservada, adentra-se na vida pública sem muito esforço. É claro que há exceções, mas são raras. O que não falta, no entanto, são as promessas eleitorais de que “vamos melhorar a saúde, a educação e a segurança dos nossos eleitores”. Mas com aqueles salários?
Deixando de lado o jargão de que eu finjo que trabalho e você finge que me paga, temos que abordar a parte prática do problema que é simples e cristalina. No caso dos policiais, salários dignos trariam para a corporação pessoas cultural e socialmente mais preparadas, menos propensas a se envolver com a corrupção, mais profissionais. Hoje, temos muitos policiais que entram na corporação já com o intuito de transgredir a ordem e aderir à banda podre da corporação. No caso dos professores, aplica-se idêntico raciocínio, pois, para terem orgulho da profissão e desempenhá-la com dignidade, têm que ter uma boa formação e condições de se atualizar. Quanto ao médico, após seis anos de curso, dois a três anos de residência ou mestrado, congressos e cursos de atualização, só os masoquistas trabalham por aqueles valores.
Por mais que se diga o contrário, greve é um direito do trabalhador (o PT é escolado nelas), e sem essa de existirem categorias que não podem usufruir desse direito. A greve sem baderna, atos de violência, incitação à desordem, é um instrumento da democracia.
Na Bahia prendeu-se o mentor da greve—no meu entender, deveriam prender também o governador e o secretário de segurança, coniventes com esses salários incompatíveis com a importância da atividade.

Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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