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Finalmente foi divulgada a lista do procurador Rodrigo Janot
segunda-feira, 09 de março de 2015
A lista do procurador Rodrigo Janot finalmente se tornou pública e um verdadeiro tsunami de lama tomou conta do Congresso Nacional. Quarenta e nove congressistas, entre deputados e senadores e, pasmem, os presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente, encabeçam a lista dos possíveis maus elementos que há muito estão grudados na política nacional, como verdadeiras cracas nos cascos de barcos e navios.
Tudo bem que esses sacripantas que enojam a sociedade e merecem todo o nosso desprezo foram citados e não acusados ainda, portanto serão investigados e, caso sejam comprovadas suas culpas, aí sim serão julgados. Mas de sã consciência, com toda a experiência que o eleitor politizado tem da podridão que há muito impera nessas duas casas, que deveriam ser esteio da ética e da moral, será que esse mesmo eleitor duvida da veracidade do que foi dito até agora, nas delações premiadas? Particularmente, não creio que o mais ingênuo dos eleitores brasileiros ponha a mão no fogo por qualquer um dos citados.
Renan Calheiros esperneia, ameaça abrir uma CPI do Ministério Público, aliás como se essa sigla valesse alguma coisa, haja vista a última da Petrobras tendo o PT como partido com o maior número de representantes, inclusive o presidente e o relator daquela comissão. Mas, como a memória é curta, não custa lembrar que esse mesmo Calheiros renunciou à presidência do Senado, em 2007, após ter sido absolvido num processo de cassação aberto no Senado Federal. Fora acusado de receber ajuda financeira de lobistas ligados a construtoras, que teriam pago suas despesas pessoais. Essa renúncia não foi por ter sido surpreendido rezando, no entanto, o corporativismo o salvou da cassação. Mas, eis que sete anos após, volta como presidente do Senado Federal e, aparentemente, comete os mesmos erros do passado.
Já o deputado Eduardo Cunha solicitou uma sindicância contra as empresas Toyo e Mitsui assim que essas pararam de molhar sua mão e a do PMDB, ou seja, cortaram suas contribuições, pelos favores prestados pelo aluguel de um navio plataforma, à Petrobras, segundo consta na delação premiada do doleiro Alberto Youssef. Edificante.
E aqui entra o maior problema da política nacional, o financiamento das campanhas eleitorais. É conhecida a máxima de que onde corre muito dinheiro tem sempre maus odores exalando. Quando participei da minha primeira candidatura a vereador, com duas semanas de campanha já sabia que jamais seria eleito, isso porque não estava disposto a ser financiado nem a gastar somas elevadas do meu próprio bolso. É uma questão de formação moral, pois se gastasse e fosse eleito, claro está que correria atrás do "prejuízo”; se fosse financiado, estaria na mão de quem me financiou; se perdesse, arruinado. Moral da história: fui até o fim da campanha municipal, curso primário da corrupção que a nivela as demais, pois hoje posso falar com conhecimento de causa. Por exemplo, minhas contas não fechavam, apesar de ter como contador uma pessoa muito séria e honesta, da cidade, simplesmente porque o "contador” do partido, para justificar os gastos por debaixo do pano, do prefeito eleito, tinha refeito a declaração de vários candidatos e distribuído o numerário sem comprovação, nas contas dos que não se elegeram.
As grandes empreiteiras do país sempre contribuíram com somas vastíssimas nas campanhas eleitorais, era a certeza de que seriam "lembradas” quando das licitações para obras de peso. Isso encareceu de tal maneira as eleições, que candidatos sem respaldo financeiro dificilmente se elegem. Por outro lado, o superfaturamento dos preços se torna obrigatório, pois o objetivo final é o lucro e ninguém entra no jogo por idealismo.
Daí, não ter o menor constrangimento em afirmar que elas têm de ser punidas exemplarmente e não poupadas como querem a AGU e PGR (Advocacia Geral da União e Procuradoria Geral da República, respectivamente). Se for preciso, para tocar as obras do governo, contratem as empresas estrangeiras; pelo menos, antes de se contaminarem, serão bem mais sérias e honestas.
Um exemplo marcante foi o montante dos gastos declarados da presidente reeleita Dilma Rousseff, cerca de R$ 56 milhões. O seu salário atual é quase duas mil vezes menor do que esse valor, ou seja, ela teria de trabalhar 50 ano, sem gastar um tostão e sem juros e correção para pagar essa dívida do próprio bolso. Das duas uma: ou vende a alma para o diabo ou se compromete até o pescoço com seus benfeitores. O certo mesmo seria o candidato gastar de acordo com seus ganhos constantes na declaração de renda do ano anterior às eleições. Muitas falcatruas deixariam de ser noticiadas. Se nada acontecer, será a pizza mais cara servida no cardápio nacional.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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