Colunas
Especialistas e especialistas
quarta-feira, 13 de março de 2013
Nos dias de hoje, infelizmente, alguns médicos estão incorporando outras especialidades aos seus currículos e se aventurando nelas, mesmo que não sejam as suas de origem. Foi assim que surgiram os neuroquiatras (mistura da Neurologia com a Psiquiatria) e, mais recentemente, os cardioendólogos (mistura da Cardiologia com a Endocrinologia).
Se já é difícil lidar com uma especialidade, haja vista o número de congressos, cursos e publicações sobre a especialidade a que os médicos são obrigados a frequentar e consultar, imagine o trabalho e o gasto suplementar que terão aqueles que se aventuram numa outra especialidade.
E é aqui que começam os problemas, muitas vezes sérios, daqueles pacientes que procuram médicos que não respeitam o velho ditado do “cada macaco no seu galho”. Podemos exemplificar isso com o diabético, em que o diagnóstico deve ser bem elaborado a fim de não causar traumas para o resto da vida, quando mal feito, assim como ao tratamento em si. Ele não se limita ao simples receitar de antidiabéticos orais ou da insulina, pois isso seria simplificar demais uma doença tão complexa.
Os antidiabéticos orais necessitam de conhecimento por parte do médico sobre a sua farmacologia, para entender seu tempo de ação, suas vias de excreção e indicação correta, levando-se em conta sexo, idade, peso e complicações já instaladas do diabetes. Esse conhecimento é muito importante para se escolher entre os vários medicamentos disponíveis, com mecanismos de ação bem diferenciados. Além do mais, persistem no mercado farmacêutico brasileiro drogas, como é o caso da glibenclamida popularmente conhecida como Daonil, da família das sulfonilureias, que se tornaram obsoletas nos países de primeiro mundo, mas permanece no receituário do SUS por ser “mais barata”. No entanto, o risco de hipoglicemias (baixa súbita do açúcar no sangue) severas é maior em relação às demais, fazendo muitas vezes o barato sair caro. Para um idoso, uma queda como consequência da hipoglicemia pode gerar uma fratura do fêmur com todas as implicações que isso possa acarretar.
Um diabético obeso dificilmente vai começar o tratamento com elas, pois para esses casos, drogas mais modernas e eficientes foram introduzidas no mercado. Mas para isso é preciso uma atualização constante, para conhecer ação, efeitos colaterais e riscos que elas podem ocasionar e, principalmente, saber manuseá-las. Assim temos a Acarbose, as Glitazonas, as Gliptinas e outras em fase final de testes para receberem o aval das sociedades médicas seja a de Diabetes seja a de Endocrinologia e as governamentais, autorizando sua comercialização.
Alguns cardioendólogos ainda se aventuram a receitar insulina, assumindo todos os riscos do desconhecimento do tipo, tempo de duração, manuseio e adaptação do paciente a esse tipo de droga. O fim dessa história é o encaminhamento a um Endocrinologista, quando então, o diabético tem dificuldade de se adaptar ao tratamento correto, com certeza mais rígido e com imposição de certas regras que não foram ensinadas quando do diagnóstico e início de tratamento.
Mas não é só o diabético, pois também os portadores de doenças da tireoide, seja o hipertireoidismo (funcionamento em excesso da glândula) ou o hipotireoidismo (baixo funcionamento da mesma), estão sujeitos a ter um primeiro contato não com o especialista, mas sim com o pseudoespecialista. No caso do hiper isso é preocupante, pois a crise tireotóxica, apesar de rara, é fatal quando se instala, geralmente por um início de tratamento desastroso.
Quando não existe o especialista, o médico tem por obrigação iniciar o tratamento, mas quando ele está presente, sua indicação é uma questão de ética.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário