Escolas públicas militarizadas

quarta-feira, 25 de julho de 2018

A revista Época da semana passada trouxe um artigo muito interessante, que vai dar muito que falar, ainda mais com a permissividade que se implantou nas escolas públicas das regiões sul e sudeste do Brasil. Trata-se de escolas da rede pública do estado de Goiás, que saíram da esfera de Secretaria de Educação e passaram a ser administradas pela Polícia Militar daquele estado. Em 2015, início do programa, elas eram 14, hoje somam 46, com 53 mil alunos. O mais chamativo é que um ano após a mudança de gestão, os sete melhores desempenhos da rede pública, no Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, foram de alunos das unidades comandadas pela PM.

Na realidade, o que se nota é uma mudança de rumo, onde alunos e professores passam a ter regras mais rígidas de conduta, onde a disciplina volta a ter papel importante na formação dos alunos. Eles são obrigados a usar uniforme, o que diminui os gastos da família com roupas e nivela todo mundo, evitando comparações desnecessárias, o famoso bulling. Tudo bem que são escolas públicas e da periferia, mas mania de grandeza e de se mostrar não tem camada social. Além disso, os alunos têm de chegar no horário, já fardados e se agruparem em fila indiana, onde são inspecionados para checagem do uniforme, do corte dos cabelos, costeletas e barba e, no caso das meninas, cabelos presos e sem esmalte nas unhas.

Perfilados, assistem ao hasteamento da bandeira nacional e cantam o hino do Brasil. Na realidade, um hábito que muitos da minha idade viveram seja em escolas públicas seja nas particulares. Claro que muitos professores não aguentam a pressão, pedindo transferência para escolas não dirigidas por PMs, assim como muitos alunos também saem, por não se enquadrarem num sistema ao qual não foram apresentados em casa. Na realidade, os alunos voltam a um sistema de conduta e aprendizado que formou gerações e gerações, onde a hierarquia, a disciplina, os bons modos moldaram homens que fizeram a diferença na condução do país.

O Brasil paga um preço muito alto, nos dias atuais, pela permissividade que grassa nas salas de aula, onde professores são agredidos física e moralmente por alunos indisciplinados, mal-educados, despreparados para a vida social, onde o respeito aos valores mais elementares ficaram no passado. E o que é pior, muitas vezes acobertados pelos próprios pais ou autoridades despreparadas para a função que exercem.

Um fato que chama a atenção é que tal prática inexiste nas regiões sul e sudeste, mas em 14 estados do país, de 2013 a 2018, o número de escolas militarizadas passou de 39 para 122, um aumento de 212%. As regiões norte e centro-oeste são as que têm a maior quantidade de alunos.

De acordo com a reportagem da revista Época, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) vê a apropriação das escolas pela gestão militar como um sério risco para a consolidação de uma educação pública, laica e de valores republicanos. Na realidade não houve uma apropriação pelos militares, mas no caso de Goiás, uma transferência de gestão da Secretaria de Educação, para os gestores militares, a cargo do governo estadual. Uma das justificativas para tal procedimento era o fato das escolas estarem em regiões de vulnerabilidade social, econômica e cultural, com altos índices de furtos, roubos, assaltos e drogas.

Um fato que me chamou a atenção é a mudança de abordagem nos problemas do cotidiano dessas escolas. O gestor de uma delas acabou com a rádio escolar que só tocava funk e rap nos intervalos das aulas, exigiu que as meninas e meninos tivessem um comportamento adequado ao local em que estavam, deixando beijos e agarramentos para fora da escola. Admitiu a existência de homossexuais entre os alunos, uma realidade nos dias de hoje, mas em contrapartida exigiu postura da parte deles.

Creio estarmos diante de um assunto palpitante, pois a juventude precisa de limites; da conscientização de valores éticos e morais; do aprendizado de gabarito, para que forme seus próprios conceitos e façam uso dele, no futuro. Nos dias de hoje são artigos raros nas prateleiras. Seria essa a solução?

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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