Enfim, de volta à santa terrinha

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Depois de dois meses fora, chegamos ao Brasil no último dia 17. Voo tranquilo, sem os percalços da ida, mas cansativo, pois passar onze horas e meia num espaço exíguo é muito complicado. Bem feito para mim, pois se fosse deputado federal, senador, ex-presidente, membro do STF ou ministro de estado, estaria viajando de primeira classe, à custa do país e com toda mordomia. Como cidadão comum e aposentado é classe econômica e olhe lá.

Definitivamente a França já não é a mesma, com os mesmos problemas de países subdesenvolvidos. Desde que chegamos e até nossa volta, o Corpo de Bombeiros, que lá se chama Sapeurs-Pompiers estava em greve, sem perspectiva de volta ao trabalho. A saúde pública, uma calamidade, com os profissionais de todas as categorias fazendo passeatas por melhores condições de trabalho e aumento do piso salarial. Aliás, isso não é privilégio só da França, pois em Portugal um hospital infantil fechou as portas por falta de pediatras.

Some-se a tudo isso um presidente fraco, totalmente despreparado para o cargo que ocupa e, o que é pior, sem o respeito que o mais alto mandatário de um país do naipe da França, deveria ostentar. Sem falar no quebra-quebra em Paris, promovido pelos “gillets jaunes”, grupo de protesto que comemorava um ano de movimento, no dia de nosso retorno. Ainda bem que chegamos no aeroporto Charles de Gaulle, de avião, sem precisar dos meios de transportes da cidade.

A islamização da França é uma realidade e, em breve, o país conhecido pela cultura exuberante, por ter gerado pensadores e escritores brilhantes será engolido pelo obscurantismo típico de culturas menos desenvolvidas. Enquanto a taxa de natalidade entre as francesas está em torno de 1,5 filhos por mulher, entre as árabes oscila entre quatro a cinco filhos por mulher. O problema é que essas crianças são francesas por nascerem na França, mas a educação e maneira de pensar é a incutida pelos pais, de origem árabe, cuja cultura é diametralmente oposta à ensinada no ocidente. Isso significa que num tempo não muito distante, a política do país será ditada por um parlamento, em sua totalidade, dissociado do passado de glórias e da influencia que incutiu na cultura do mundo ocidental, em geral.

Outra coisa que chama a atenção na terra de Asterix é o número de pessoas incapacitadas, a maioria parcialmente, mas que gera custos, pois implica em diminuição de impostos, redução de carga horária, facilidade para estacionamentos etc. Alguém tem de pagar a conta, daí a carga tributária ser alta e a seguridade social ter problemas de caixa, pois é muita gente se beneficiando das facilidades criadas pelo sistema.

Na semana anterior a nossa partida um fato me chamou a atenção, quando em dias diferentes, duas mulheres foram impedidas de acompanhar os filhos, numa excursão da escola, pois se recusaram a retirar o véu. Motivo de discussões acaloradas, os jornais televisivos noticiando a todo instante, com opiniões prós e contras. Só que a França se diz laica, portanto, em público, as pessoas não devem ostentar hábitos religiosos seja de que religião for.

Nessa linha de raciocínio ou as mulheres citadas retiravam os seus véus, ou simplesmente não prosseguiriam na excursão, sem o estardalhaço típico que esses acontecimentos implicam. E aí, a meu ver, reside todo o problema, pois se trata da tentativa de implantar costumes arraigados e importados, num país de orientação completamente diferente.

Visitamos várias cidades classificadas entre as mais bonitas da França, todas antigas, algumas datando do século 13, outras localizadas em estações de esqui. Aliás, como o frio e a neve chegaram mais cedo esse ano, muitas estavam branquinhas, um colírio para os olhos, verdadeiros cartões postais. Ainda bem que esse espetáculo permanecera pela eternidade, pois não existe religião, política ou desejo humano que possa reverter a sequência das estações do ano. Assim, a primavera e o inverno continuarão a serem lindos na Europa em geral e, na França, em particular.

Voltei para o Brasil com a sensação de que a França que desperta tanta curiosidade naqueles que amam a cultura, deve ser visitada o quanto antes, pois a tendência é que ela seja num futuro não muito distante, apenas uma citação nos livros de história.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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