Em boca fechada não entra mosca nem...

terça-feira, 23 de setembro de 2014

"Magnólia leitosa é excelente para sua constipação intestinal, sua vantagem é que já vem com papel”, "O poodle preto e branco de madame Banjar esta desaparecido, paga-se bem a quem achá-lo”, "Domingo tem sarau na casa de D. Mariquinha, serão servidos doces e quitutes nos quais a anfitriã é especialista”. 

Se meus leitores estão surpresos com esse início de coluna, não se assustem; creio que é assim que a presidenta do Brasil espera que nossa imprensa atue, após declarar que o seu papel não é investigar, mas sim divulgar. São sandices como essa, idêntica à declaração de que seus adversários vão acabar com a bolsa alimentação, que nos mostram o risco que corremos com a reeleição de Dilma e a permanência do PT por mais quatro anos no poder.

Que o cidadão comum faça determinadas afirmações é compreensível, certas nuances do quotidiano não são obrigatoriedade do conhecimento de todos; mas um chefe de Estado não pode fazer afirmações levianas, principalmente com o intuito de tentar encobrir maracutaias de seu governo. Será que nossa presidenta nunca ouviu falar de jornalismo investigativo, hoje cadeira obrigatória das faculdades de Comunicação Social? Aliás, o bom jornalista tem sempre na investigação a ferramenta principal de sua profissão, pois toda publicação tem de ser embasada em fatos concretos, apurados antes de serem divulgados; por isso, ele se utiliza de fontes de consulta confiáveis, pessoas ou sites informativos para que sua matéria tenha credibilidade. Um comunicador que difunda a notícia de que os candidatos Aécio e Marina declararam ser contra o bolsa-família tem que provar tal afirmação, pois corre o risco de ser processado por injúria e disseminação de falsas verdades.

Se não fosse a imprensa, não teríamos tido conhecimento da tentativa de denegrir o então candidato José Serra, nas eleições presidenciais de 2010, com a divulgação de um relatório falso. Ficariam também desconhecidos os mensalões do PT e do DEM, as maracutaias da Petrobrás e de Minas Gerais. O próprio vazamento de algumas declarações da delação premiada do ex-diretor da Petrobrás, Paulo Barros, foi importante para que as investigações se aprofundassem, assim como a sociedade ganhou mais subsídios para futuras avaliações do momento político brasileiro. 

A posição de nossa presidenta é sempre dúbia, pois como chefe da nação teria a incumbência de punir os deslizes de seus comandados e demiti-los caso esses deslizes sejam provados. No entanto, seu comprometimento partidário a impede de agir com imparcialidade. Se assim não fosse, a CPI mista da Petrobrás, com maioria governista, não estaria discutindo o sexo dos anjos, desde o seu início, e cumpriria de verdade o seu papel. Aliás, beira ao ridículo e ao desprezo para com o cidadão a convocação de Paulo Barros para depor na CPI da Petrobrás. O seu deslocamento do Paraná para Brasília tem custos que são pagos por nós, através de nossos impostos, além do desperdício de horas de trabalho dos agentes da Polícia Federal. Se o procurador geral da república fora proibido de falar, sob pena de comprometer os benefícios da delação premiada, não teria sido mais fácil o pseudo depoimento através de vídeo conferência? Pelo menos seria um bom programa humorístico tipo Os Trapalhões, aliás, esse muito mais sério.

O problema de que para se manter no poder vale tudo seria resolvido se o político tivesse de provar o que fala, além de ser obrigado, sob pena de perda do mandato, de cumprir suas promessas.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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