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Educação, combustível precioso para o crescimento de um país - 10 de novembro.
Uma matéria publicada no jornal O Globo de domingo, 24 de outubro, fez-me refletir sobre a maneira irresponsável com que a educação é tratada no Brasil. Dizia o título: ”A febre educacional que salvou a Coreia do Sul” e, no subtítulo: “País se tornou um dos maiores PIBs da Ásia: 97% dos estudantes concluem o ensino médio”.
É bom lembrar que a Coreia, de 1910 até o final da Segunda Guerra, pertencia ao Japão. Após a rendição deste, ela ficou sob a supervisão de americanos e russos, já, então, dividida em Norte, pró-comunista, e Sul, pró-americano. Em 25 de junho de 1950, os norte-coreanos invadiram o sul dando início a um conflito que só terminou três anos após, em setembro de 1953.
O que levou uma nação eminentemente agrícola, pobre e destroçada por uma guerra cujo balanço trágico deixou cerca de 3,5 milhões de mortos e milhares de feridos, a se tornar um dos maiores PIBs da Ásia? A resposta elementar, pura e cristalina foi o pesado investimento na educação e na formação do capital humano. Sem promessas eleitoreiras, pois no Brasil a educação só entra em evidência nessa época, o governo coreano investiu pesado na formação das crianças e dos jovens, de tal maneira que os 28% de alfabetizados de 1945 se transformaram em mais de 98% nos dias de hoje. Foi esse desenvolvimento educacional sul-coreano que precedeu e guiou o crescimento econômico. Além disso, 97% dos estudantes completam o ensino médio, e o índice de pessoas com nível universitário na faixa etária que vai dos 25 aos 34 anos é de 60%, uma cifra respeitável.
Enquanto isso, no Brasil, de cada cem alunos matriculados no ensino fundamental, apenas 53 conseguem concluí-lo, de acordo com dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), ou seja, pouco mais de 50%. No ensino médio, a situação é um pouco melhor, pois de cada dez alunos, um abandona os estudos, segundo dados do IBGE. Mas, mesmo assim, esse índice é o pior do Mercosul. Com relação ao acesso dos jovens ao ensino superior, apenas 10% daqueles em idade adequada conseguem cursar uma universidade.
Muitos são os problemas que levam a esse quadro, mas a má qualificação dos profissionais do ensino com certeza está entre os mais graves; quase a metade dos professores da rede pública que dão aula até a quarta série não têm diploma universitário. Além disso, a remuneração deles é ridícula, um verdadeiro caso de polícia. Na Coreia do Sul, 100% dos professores são recrutados entre os melhores alunos do ensino médio e para as classes do ensino fundamental, só são aceitos na universidade de Educação os 5% com melhor desempenho. Além disso, a profissão torna-se atraente, pois além de bons salários (no mesmo nível de médicos e engenheiros) existe a possibilidade de crescimento profissional e de prestígio, pois ao serem considerados importantes na cadeia de formação dos jovens, eles são reconhecidos como tal. Na Coreia do Sul, ser professor compensa.
Atualmente o Brasil destina só 4,4% do seu PIB para a educação, quando a estimativa mínima é de 6% (Ministério da Educação) e a Unicef (Fundo das Nações Unidas pela Infância) prevê 8%. A esperança é a nova presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, colocar em prática o que disse em seu primeiro discurso, quando afirmou que vai aumentar os investimentos em educação. No entanto, além de uma boa remuneração é importante reconhecimento e investimentos no treinamento, como acontece na Coreia.
P.S: deu na coluna de 4 de novembro do Ancelmo Gois, no Globo, que a presidenta disse não ser a educação prioridade no seu governo, pois ela está muito bem. Pode?
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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