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E a viagem continua
Onze dias sozinho na Europa tendo de me virar sem a companhia da minha cara-metade, que ainda está no Brasil, resolvendo os problemas pós-morte do meu sogro, como requerer pensão do INSS, marcar exames médicos para minha sogra, para que possa regressar sem sustos (afinal, ela tem 91 anos) e pequenos problemas de última hora. Aliás, a título de informação, uma conhecida nossa perguntou à Oneli como devia se sentir alguém só no exterior, longe das pessoas que ama. A resposta para ela é: “Sente-se como o vírus da mosca do cocô do cavalo do bandido”.
O problema está no tipo de viagem programada. Quando você se propõe a ficar um tempo mais longo e aluga uma casa, você está acompanhado, com uma programação mais light, pois tem um ponto de apoio ao qual retorna ao fim de cada viagem. Refeições em casa, roupa lavada também, enfim uma continuação da vida em nossa casa, só que no estrangeiro. Quando de repente esse equilíbrio se rompe, a sensação é de que nos puxaram o tapete e que o mundo se acabou. O vazio é a sensação que nos acompanha vinte e quatro horas, pelo menos no início. Nada faz sentido, a programação original vai para o espaço e é imprescindível buscar alternativas, o que nem sempre é fácil.
Numa viagem mais curta, a opção é sempre de ficar em hotel, no máximo quatro dias, mas com a possibilidade de conversar com as pessoas, nem que seja com a recepcionista. Como o roteiro já está pré-determinado, é só segui-lo com a vantagem de que haverá sempre interação com outras pessoas. Afinal o turista é um ser diferente.
Felizmente o bom cristão não morre pagão e tenho condições de recorrer aos amigos e parentes para espantar a solidão. Na Itália, um amigo de infância dos meus enteados, tem me ajudado muito, pois tem me incluído na programação de sua família como a ida à praia em Desenzano, no lago de Garda, um santo mergulho num dia de calor infernal, cerca de 36 graus centígrados, sem nenhuma brisa.
Nesse fim de semana parti para Bonn, na Alemanha, visitar um sobrinho que há doze anos mora e trabalha no país. No sábado visitamos a cidade de Bad Munstereifel, há cerca de 50 quilômetros da ex-capital da Alemanha Ocidental.
Bad Munstereifel é uma cidade medieval, com quase 18 mil habitantes, incluídos a população das pequenas aglomerações do seu entorno, cuja história se inicia no ano de 830 DC. Nessa época, Markward, o terceiro abade de Prum, fundou no local uma filial da abadia, à qual chamou de Novum Monasterium. Em 844 a abadia recebeu, como presente, as relíquias do casal de mártires romanos Chrysanthus e Daria, cuja história é trágica, pois foram sacrificados após terem se convertido ao cristianismo. Seus restos mortais atraíram uma multidão de peregrinos, o que fez crescer a importância da cidade.
No ano de 1300, o conde Juliers construiu um castelo e cercou a cidade com um muro, para aumentar a segurança dos moradores; essa muralha, restaurada em sua totalidade, dá um toque todo especial ao local. Em 1356 foi-lhe concedida autonomia administrativa e surgiram ateliês que produziam tecido, lã, peles e cerveja. Várias ordens religiosas como os Jesuítas, Carmelitas e Capuchinhos nela se instalaram, o que aumentou seu prestígio. Em 1802, após a invasão pelas tropas de Napoleão, veio a secularização (perda do poder religioso em favor do laico) com a consequente deterioração da vida econômica. Hoje ela é uma estância de férias para os habitantes de cidades próximas como Colônia, Bonn, Düsseldorf e Rhur. Suas construções são típicas, enxaiméis na sua maioria, muitas datando dos séculos XV, XVI e XVII, com vários restaurantes, hotéis e igrejas.
De 10 de maio a 6 de junho de 1940, no início da Segunda Guerra Mundial, com a invasão da Bélgica (a fronteira entre os dois países fica a menos de 50 quilômetros de Bad Munstereifel) Adolf Hitler aí se instalou, num local que ficou conhecido como Ninho da Águia.
Sexta-feira vou para a Suíça, passando antes pela cidade de Freiburg, metade do caminho entre Bonn e Moutier.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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