É preciso moralizar com urgência a política brasileira

sexta-feira, 29 de junho de 2012

As últimas semanas nos deram a medida exata do que é uma atividade política nefasta, em que os homens públicos perdem a vergonha e passam a agir de cara aberta, sem a dissimulação que ostentam nas suas vidas privadas.

O ex-líder sindical que ocupou o planalto durante oito anos ainda pensa que dispõe do poder intimidatório que a presidência lhe conferia, ao tentar manobras para atrasar o julgamento do mensalão, maior escândalo político da era PT no poder. Lula ainda não se deu conta de que sempre foi medíocre, cujo brilho, como o de um cometa, foi produzido pela mesma mídia hoje tão combatida por seu partido. Ao passar a faixa, não estava preparado para voltar a ser o cidadão comum que sempre foi, um oportunista cujo mérito maior o de aproveitar o momento como poucos o fizeram. De um simples líder sindical chegou a presidente da república e ainda recebeu o título de Doutor Honoris Causa das maiores instituições universitárias do país. Amém.

Em 1988, Ulysses Guimarães, em seu discurso na promulgação da constituição, anteviu num parágrafo todas as mazelas que ocorreriam na política brasileira dos dias de hoje. Disse ele: “A corrupção é o cupim da República. República suja pela corrupção impune tomba nas mãos de demagogos que, a pretexto de salvá-la, a tiranizam. Não roubar, não deixar roubar, pôr na cadeia quem rouba eis o primeiro mandamento da moral pública”.

Aliás, é essa moral pública que falta no Brasil de hoje. Por mais que Tomaz Bastos, ex-ministro da Justiça no governo de Lula, tente justificar sua posição, fica difícil para o cidadão comum engolir sua postura ao defender, a peso de ouro, o contraventor Carlos Augusto Ramos, vulgo Carlinhos Cachoeira. Essa não deveria ser a conduta de um ex-ministro, além do mais da Justiça, pois o dinheiro que lhe é pago é proveniente da corrupção, do roubo, da dilapidação do erário público. Os rios de dinheiro que desaparecem pela atividade fraudulenta daqueles que detêm o poder, poderia muito bem contribuir para a diminuição das desigualdades sociais do país. Todo cidadão tem direito à defesa, na tentativa de atenuar sua culpa; para isso existe a Defensoria Pública, onde o advogado recebe, através do seu salário, dinheiro decente e honrado para esse tipo de atividade.

Espetáculo ridículo protagonizado por Cachoeira e seu braço direito no senado federal, o senador Demóstenes Torres, ao ficarem calados na CPI do Cachoeira, para não produzirem provas contra eles mesmos, um artifício maroto que o próprio código civil lhes proporciona. Melhor seria não terem ido e apresentarem uma desculpa de que foram acometidos de uma gastroenterite aguda. É ridicularizar demais as instituições. No entanto, esse é o retrato do Brasil de hoje.

Um dos grandes malefícios que a “redentora”, o golpe militar de 64, deixou como legado às gerações futuras, foi acabar com a representatividade estudantil e com isso a produção de líderes ou de políticos capazes como, por exemplo, Celso Furtado, Carlos Lacerda, Negrão de Lima, Pedro Simon, Paulo Brossard, Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Rubens Paiva e muitos outros que souberam honrar a vida pública e contribuíram para que a atividade política fosse uma coisa saudável. Nos dias de hoje o que assistimos é uma degradação dessa atividade, pois os interesses partidários estão acima de tudo, mesmo que para isso seja necessário compactuar com o mal feito.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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