Duas cidades de montanha, dois destinos diferentes

terça-feira, 11 de março de 2014

Uma das coisas mais importantes no desenvolvimento e consolidação de uma cidade, um estado ou um país, é sua administração, pois sem ela os investimentos e a participação do povo ficam comprometidos. Digo isso porque quando visitamos cidades com topografia, clima e moradores com características semelhantes à nossa, as comparações são inevitáveis.

Passamos o carnaval em Campos do Jordão, cidade turística por excelência, incrustrada na serra da Mantiqueira, no estado de São Paulo. No entanto, há quatro anos, com uma administração desastrosa e um prefeito que deixava a desejar no plano administrativo e na capacidade criativa, o município exalava desleixo e abandono. Mesmo com o feriado prolongado, a cidade estava vazia, hotéis com capacidade ociosa, comércio com baixo movimento. A população, quando perguntada, reclamava bastante e criticava o governo municipal, pois mesmo o Festival de Inverno, marca registrada da cidade e evento mais importante da temporada, estava desprestigiado e sem apoio municipal.

Este ano, com novo prefeito, tudo mudou e encontramos uma cidade a todo vapor, limpa, capacidade hoteleira esgotada, restaurantes e lojas sempre cheios, a comprovar que quando o alcaide e a classe política mostram serviço, a população faz também a sua parte e todos saem ganhando. 

Na contramão de Campos do Jordão, Friburgo nunca admitiu sua tradição de cidade turística e, muito pelo contrário, os investimentos nesse segmento sempre deixaram a desejar. Mesmo que no passado tenha abrigado hotéis que se fizeram conhecidos, dotados de uma boa infraestrutura para a época, prevaleceu o fato de ser uma vila industrial, com a maior parcela dos impostos oriundos de suas principais fábricas. Nem mesmo o setor gastronômico se firmou, pois mesmo tendo descendência suíça, portuguesa, italiana e espanhola, com pouquíssimas exceções, seus restaurantes não se destacam no cenário local. Arquitetura mambembe, trânsito caótico e indisciplinado, transporte público sofrível, a terra do Cão Sentado é uma cidade empobrecida e sem atrativos para atrair turistas.

Por outro lado, Campos do Jordão prima por sua arquitetura gótica e mini shoppings com uma beleza plástica de encher os olhos, nos quais as lojas têm artigos para todos os gostos e orçamentos; além disso, faz parte do seu transporte público a Estrada de Ferro Campos do Jordão. A ligação com os municípios de Pindamonhangaba e São José do Pinhal está desativada no momento, mas o bonde que também trafega em sua linha férrea é um misto de transporte de massa e de turistas. Além disso, tem uma maria fumaça, com seu tradicional apito, que faz a alegria da garotada. Ao final do passeio, a sensação é de se ter entrado e saído de uma máquina do tempo. 

Apesar de sua ocupação ter começado no século XVI, a data oficial de sua fundação é 29 de abril de 1874. Situado a 1.630 metros acima do nível do mar, portanto a mais alta cidade brasileira, Campos do Jordão é um dos quinze municípios paulistas considerados estâncias climáticas pelo estado, por cumprirem os pré-requisitos definidos por lei estadual. Tal nomeação garante a esses municípios uma verba maior por parte do estado para a promoção do turismo regional. Mas Nova Friburgo também tem um clima muito bom, tanto que no século XIX e até meados do XX era muito procurada para a recuperação de doenças pulmonares. Além disso, parece que suas águas eram afrodisíacas, pois a princesa Isabel, após dez anos de infertilidade, engravidou depois de uma estadia em Friburgo. 

Não sabia, então, como seria o carnaval em nossa cidade, mas confesso que antes de viajar rezei para que a festa pagã mais tradicional do Brasil fosse um sucesso. Que a população faria o possível e o impossível para isso se transformar em realidade, não havia a menor dúvida. No entanto, tive muito medo de que nossas autoridades tentassem construir uma Casa do Samba igual ao famigerado Barraco do Papai Noel.


TAGS:

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.