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Desabamento de três edifícios assusta a população do RJ
No dia 26 de janeiro de 2012, oito e meia da noite, o Rio de Janeiro assistiu estarrecido o início de uma tragédia urbana de grandes proporções, com a queda de três prédios, numa das regiões mais movimentadas do centro da cidade. Até a tarde de sábado, 17 corpos já tinham sido encontrados restando ainda cinco de um total de 22 desaparecidos.
Num país “da paz e amor”, sem nenhuma conotação pejorativa, onde a política de não interferência e da boa vizinhança é a tônica, um atentado terrorista jamais seria esperado, daí as possíveis causas do tríplice desabamento estarem ainda no terreno das especulações. As causas mais prováveis seriam fadiga do material (trata-se de uma construção com mais de 70 anos), comprometimento estrutural ou infiltração da laje da cobertura com sua consequente ruptura e queda em cascata. O primeiro a cair foi o edifício Liberdade, com 20 andares, na Rua Treze de Maio, e em sua queda derrubou outros dois, um com 10 e outro com 4 andares, situados na Rua Manoel de Carvalho, uma transversal da Treze de Maio.
Como eram realizadas duas obras, uma no terceiro e outra no nono pavimentos, ambas sem a devida solicitação e autorização da Prefeitura do Rio e sem consulta prévia ao Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio), a pergunta que se faz é: será que uma coluna de sustentação teria sido retirada ou danificada, inadvertidamente, e comprometido toda a estrutura do edifício?
Só as perícias que ora se iniciam poderão descobrir as verdadeiras causas dessa tragédia e punir aqueles que são responsáveis por ela. No entanto, são inegáveis os efeitos danosos que a falta de fiscalização pode causar à sociedade. Basta ver uma foto do edifício Liberdade feita na década de 50 e a atual para se ter uma ideia da descaracterização da obra original. Nota-se o aparecimento de janelas em vários andares e de tamanhos diferentes, numa das laterais da construção, assim como uma modificação arquitetônica nos andares mais altos. Provavelmente foram alterações sem autorização e, o que é mais grave, sem consulta prévia a um engenheiro. Aliás deveria ser obrigatória uma vistoria em todos os edifícios de uma cidade, a cada cinco anos, em especial naqueles com mais de trinta anos de construídos.
Na obra atual nas dependências da firma TO (Tecnologia Organizacional), o cronograma das modificações a serem feitas era de autoria de uma funcionária da área administrativa, segundo afirmou um dos diretores da empresa numa entrevista coletiva à imprensa. Essa firma, que ocupa seis andares do prédio, também fazia obras no terceiro andar. Coincidência ou não, o desabamento se deu uma semana após o início delas.
Digno de nota, e isso é importante para uma cidade que vai sediar dois grandes eventos, a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016, foi a rapidez com que as equipes de socorro chegaram ao local. Se por um lado há muitas especulações sobre o andamento das obras previstas para esses dois acontecimentos, é inegável que a cidade passou no teste de atendimento às grandes catástrofes. O número de mortos é pequeno, felizmente, em função do horário em que o fato ocorreu, mas essas mortes não foram de maneira nenhuma provocadas pelo despreparo ou morosidade no atendimento às vítimas. Aliás, mais uma vez tiro o chapéu e rendo as devidas homenagens para o trabalho do Corpo de Bombeiros de nosso estado.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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