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Desabafo de um cidadão, desdobramento - 30 de março 2011
Em minha coluna do dia 23 de março, cujo título foi “Desabafo de um cidadão”, citei entre outros fatos a junta médica a que foi submetido o prefeito licenciado de Nova Friburgo. O meu comentário foi baseado no fato de que a enfermidade do mesmo já ultrapassara os seis meses de duração — tempo, a meu ver, mais do que suficiente para que se tivesse uma conclusão definitiva do caso, uma vez que se trata de um cidadão com mais de 85 anos, acometido de um sério problema de saúde, em função de um acidente que sofreu na Suíça, em setembro do ano passado. Além disso, conforme publicação do próprio A VOZ DA SERRA, o enfermo permanecia com uma sonda gástrica, pois apresentava uma disfunção esofágica que impedia a sua alimentação normal.
Esse intróito se faz necessário, pois recebi uma missiva assinada pelos componentes da junta médica do dia 14 do corrente e, sem entrar no mérito da questão, mas por respeitar a opinião de profissionais do mais alto gabarito e atuantes na nossa cidade, publico-a na íntegra. A única correção a fazer é que, graças ao bom Deus, deixei de ser perito do INSS desde setembro de 2009, quando obtive minha carta de alforria e me aposentei.
“Nova Friburgo, 26 de março de 2011.
Ilmo. Sr. Dr. Max Wolosker, mui digno jornalista e médico.
V.S., como médico e, mais ainda, perito médico do INSS, sabe muito bem os limites éticos de nossa profissão. Certamente, tem mais experiência, conhecimento e sabedoria que qualquer um de nós, pelo fato de exercer a profissão, com proficiência e dignidade reconhecidas pelos moradores de nossa cidade, por período de tempo em que excede a qualquer um de nós. Sabemos também que é jornalista. E, como leitores bissextos de sua coluna, podemos afirmar que é, também, um bom jornalista.
Naturalmente, que suas duas atividades não se podem confundir. Entendemos que sua atividade jornalística independe da profissão de médico. E vice-versa. Porém, há peculiaridades em nossa profissão que, independentemente do que estivermos fazendo, são obrigatórias e, mesmo fora do exercício direto da mesma, nos são impostas. E tais imposições não decorrem de corporativismo ou capricho de categoria profissional. Mas somos compelidos a elas, e por elas. Pelo respeito ao paciente e sua vontade, pela obrigação do ‘primum non nocere’, pela discrição que deve reger nossos atos. Tais princípios datam de Hipócrates (460 - 377 A.C.) e, estendidos e adaptados a situações da vida hodierna, consubstanciam-se em documentos com cunho legal, como o atual Código de Ética Médica.
V. S., em seu artigo ‘Desabafo de um cidadão’, como jornalista, enveredou por um raciocínio que contradiz sua postura de médico ético e competente. Em seu desabafo, transforma-se de cidadão abafado em articulista afobado a tecer considerações apressadas sobre o teor do laudo por nós emitido. Neste, está contido tudo que nos foi permitido revelar, a saber, da capacidade laboral de Sua Excelência. E a conclusão, conforme já divulgado largamente pela imprensa, foi a de que o mesmo, no momento, não está apto ao exercício do cargo. Tentando ser completos, sabendo-se que enfermidades como a que acomete o Sr. Prefeito têm evolução temporal, sugerimos que fosse feita nova avaliação após 90 dias, tempo julgado suficiente para se ter um segundo ponto confiável da curva de evolução clínica. O Sr. Prefeito aceitou, por correspondência aos vereadores, e pessoalmente inquirido por nós, a se submeter à avaliação desta junta para aferir sua capacidade laboral. Não externou vontade, nem lhe foi solicitado pela Câmara, de que se lhe revelassem a condição clínica. Se outras figuras da política o fizeram, foi por vontade própria e não pela imposição popular ou da imprensa ou quejandos.
Como acreditamos ter demonstrado a V.S. que, nada mais fizemos senão, justamente, o que V.S. preconiza no quarto parágrafo de seu citado artigo, solicitamos, gentilmente, que faça uma reflexão, tendo em mente que todos nós somos passíveis de erros e, com a devida vênia, junte os originais de sua coluna do dia 23 do corrente, junte tudo e jogue fora. E, em consonância com os ditames de sua consciência, nos faça justiça em uma nova coluna, publicando esta missiva.
Atenciosamente,
Paulo Roberto Alves Rosa, Jorge Marcos Faria Hermsdorff.
Ebenézer S. Ferreira Jr.”
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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