Desabafo de um brasileiro descrente

quarta-feira, 04 de outubro de 2017

Desabafo de um brasileiro descrente

Que saudades eu tenho dos vários meses que morei na Europa, desde 2011. Como sinto não poder residir lá fora até o final dos meus dias. Como ser brasileiro me pesa no corpo e na alma, me deixando num estado de torpor e desânimo que só não me fazem sucumbir, porque a certeza de muito a realizar ainda me dá lampejos de esperança. Não a esperança de que o Brasil encontre seu rumo, pois isso é humanamente e mesmo espiritualmente, impossível; mas a esperança de poder me afastar do malfadado “Ordem e Progresso”, do verde que lembra as matas, do amarelo que lembra o ouro e dessas imbecilidades com que os marqueteiros, ao longo desses anos, enganaram o povo brasileiro. Isso sem citar a velha marchinha dos anos 70 que dizia “este é um país que vai prá frente”. Só se for para frente do precipício.

Ano que vem temos eleições para o Executivo e para o Legislativo, mas vejam bem, com esses poderes mais sujos do que pau de galinheiro, votar-se-á em quem? Que lástima ver que, segundo pesquisas (confiáveis ou não), Luís Inácio tem intenção de votos suficiente para ser eleito. E o que é pior, apoiado por muitos que se dizem cultos e instruídos, exatamente aqueles que, em princípio, não se deixariam levar pela propaganda enganosa. Serão cegos e surdos, sem nenhum senso crítico e análise racional? Acham mesmo que o país dos últimos 14 anos foi uma maravilha? Não que o anterior o fosse e o que o atual o seja.

Mas, e os outros propensos candidatos? Quais propostas e princípios sérios teriam a nos apresentar, senão as mentiras de sempre, como por exemplo o surrado bordão: “Farei tudo pela saúde, pela educação e pela segurança do meu povo”. Ciro Gomes, Marina, Geraldo Alckmin são todos representantes de uma classe política bolorenta e malcheirosa que já deveria ter desaparecido. Sem falar no Bolsonaro, o Trump tupiniquim. Mas, o pior é que não temos lideranças novas, discursos novos, exemplo de vida que motive e dê esperança de que as coisas poderiam ser melhores.

Viver lá fora tem um grande diferencial, pois o que importa é o câmbio; em sendo estrangeiro não existem as preocupações com o nível da classe política, se são corruptos ou não, apesar de que essa praga é universal, mas fora de controle no Brasil. Mas, a qualidade de vida é incomensuravelmente melhor do que aqui. A inflação sempre sob controle, o ir e vir na maioria das vezes não termina em assaltos nem em ferimentos por arma de fogo, nem em mortes. Flanelinhas e malabaristas em sinais, são raros e nunca como risco iminente de assalto como por aqui. O respeito à lei do silêncio mostra um nível de educação e civilidade que nos são desconhecidos. Em suma, um nível cultural que faz a diferença.

Não sofro da síndrome do cachorro vira-lata que foi imortalizada pelo jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues, mas meu senso crítico me mostra que o Brasil não tem mais jeito. Perdemos o bonde da história e não soubemos aproveitar a chance de nos tornarmos um país que respirasse progresso e desenvolvimento, com qualidade de vida de acordo com o que o cidadão que paga impostos, merece.

Um país em que suas autoridades perderam a credibilidade, são despreparadas e corruptas, gera a sensação de impunidade e dá margens aos abusos que vemos disseminar hoje entre a população brasileira. Não se respeita mais nada. Nossos jovens esqueceram de que são eles o futuro do país e não se prepararam para assumir seu papel, como ocorre nos países mais desenvolvidos. Com isso, abriu-se uma lacuna sem precedentes o que deu margem à manutenção do que pior existe na política brasileira.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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