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De Arraial do Tejuco à atual Diamantina
terça-feira, 21 de outubro de 2014
Viajador pelas terras das Minas Gerais, uma das cidades que me faltava conhecer e que faz parte da Estrada Real de Minas Gerais era Diamantina. Daí que sábado último resolvemos conhecer o antigo Arraial do Tejuco, numa viagem diferente, pois em vez do caminho tradicional pela BR-040, passamos por Sumidouro, Carmo, Além Paraíba, Viçosa, Itabira, Guanhães, Serro e, finalmente, Diamantina. Era um caminho mais longo, mas como a pressa não era nosso caso, nos deu a oportunidade de fugir das estradas principais e rodar pelas estradas estaduais mineiras mais tranquilas, com menor movimento e muito bem conservadas.
Diamantina, de acordo com estimativa do IBGE de 2013 e sem a margem de erro tão em voga nesse período eleitoral, está com quase 48 mil habitantes. É a terra natal de Francisca da Silva de Oliveira, a famosa Chica da Silva, uma ex-escrava alforriada e casada com o homem mais rico do Brasil Colonial, João Fernandes de Oliveira; do ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira e fonte de inspiração para o jornalista e escritor Sérgio Porto (Stanislau Ponte Preta) compor, em 1968, o Samba do Crioulo Doido. Fundada em 1713 como Arraial do Tejuco, no final do século XVIII era a terceira cidade em importância da antiga Capitania das Minas Gerais, ficando atrás apenas de Ouro Preto (a capital) e de São João del-Rei. Ficou famosa pela descoberta dos diamantes em 1729 e seu crescimento se deveu à grande produção desse mineral que foi muito explorado pela coroa portuguesa. Daí sua inclusão na Estrada Real, rota que escoava as riquezas de Minas Gerais para o porto do Rio de Janeiro.
Incrustada na Serra do Espinhaço, sobressai pelas suas construções de inspiração barroca, pelo seu traçado tortuoso e irregular e por uma pavimentação que é o orgulho dos mecânicos especializados em suspensão. O calçamento é da época dos escravos, tipo pé de moleque, e para andar por suas ruas e ruelas o melhor é usar tênis. Salto alto nem pensar, pois é queda na certa.
Em 1938, quando comemorou seu centenário como cidade emancipada, Diamantina recebeu o título de Patrimônio Histórico Nacional, concedido pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional; em 1999 foi reconhecida pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade. Aliás, esse título está causando problemas para seus habitantes. De acordo com a Unesco, a cidade tem de preservar suas características, inclusive no entorno; com isso, nada pode ser alterado e as novas construções têm de seguir o padrão antigo. A manutenção de uma casa antiga é cara e muitos não têm condições de arcar com os custos; assim, o governo estadual tem comprado muitos imóveis e transformado em repartições públicas; esse mesmo procedimento tem sido adotado pelos bancos, públicos ou não. Outro problema é que nos séculos XVIII, XIX e início do XX não havia automóveis e as residências não possuíam garagens; no entanto, como é vedada a transformação das fachadas ou acréscimo nas mesmas, é impossível conseguir autorização da prefeitura para um "puxadinho”. É conhecida a história de um morador que derrubou um cômodo, transformou-o em garagem e deixou a fachada com as mesmas características anteriores. Foi processado, já perdeu na primeira e segunda instância e, com certeza, vai ter de retornar ao projeto original.
Vários são os pontos a visitar, como a casa em que nasceu JK, ou na que morou Chica da Silva, o Museu do Diamante, a Catedral Metropolitana de Santo Antônio e o Parque Biribiri, onde se destacam as cachoeiras dos Cristais e da Sentinela e a Vila Biribiri. De 1876 até os anos 70 do século passado, nessa vila funcionou a Tecelagem Belo Horizonte; era uma comunidade autossustentável, com cerca de 600 moradores entre trabalhadores e seus familiares. Atualmente as casas estão sendo vendidas e o local tem dois restaurantes com comidas típicas e uma pousada. Fica a 12 km do centro da cidade, em estrada de terra.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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