Dapagliflozina — um novo conceito no tratamento do diabetes

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Foi realizado em São Paulo, de 7 a 9 de junho de 2013, o 15º Curso Avançado em Tratamento do Diabetes, coordenado pelo Prof. Dr. Antonio Roberto Chacra, professor titular da cadeira de Endocrinologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). O curso, já consagrado na extensa programação da diabetologia brasileira, contou com a participação dos endocrinologistas Maria de Lourdes Erthal, Max Wolosker e Silvia Diegues.

Voltado para os progressos no manuseio de uma doença crônica, a acometer cerca de 10% da população mundial, significando que um adulto em dez tem diabetes, a vedete dessa edição foi a dapagliflozina. Trata-se de uma nova droga a fazer parte, em breve, do extenso arsenal de medicamentos com o objetivo de alcançar o bom controle da doença e que é algo inovador, pois seu modo de ação é muito diferente dos já existentes.

Até agora o mecanismo de todos os farmacos utilizados no tratamento do diabetes tipo 2, aquele que não necessita do uso diário de aplicação de insulina, se concentrava no pâncreas, seja pelo estímulo à produção de insulina, pelas suas células beta, seja na inibição da produção de um hormônio chamado glucagon, produzido pelas células alfa e cuja ação principal é o estímulo à produção de glicose (açúcar), pelo organismo. Esse novo medicamento, a dapagliflozina, tem sua ação no rim e independe da insulina para exercer seus efeitos hipoglicemiantes, ou seja, de diminuir a glicose no sangue.

As pessoas não diabéticas não costumam perder glicose pela urina, isso se deve à presença de um fator chamado SGLT2, cuja função principal é a de reabsorver o açúcar que passa pelos rins. Existe uma doença chamada diabetes renal, familiar, caracterizada por uma perda de glicose na urina, sem que haja em contrapartida sua elevação no sangue. Nesse caso há uma deficiência do SGLT2 a provocar tal distúrbio. O próprio diabético perde açúcar na urina quando este ultrapassa a marca de 180 mg/dl no sangue. Nesse caso, não existe deficiência dessa substância, mas sim uma incapacidade em promover a reabsorção adequada, devido a uma taxa acima do normal. Quanto mais alta a glicose no sangue, maior a perda pela urina. 

A dapagliflozina é uma droga que inibe a ação do SGLT2 e, na realidade, provoca uma glicosúria medicamentosa, com perda aproximada, na urina, de 60 a 80 gramas de glicose por dia. Os estudos desenvolvidos até agora mostram que ela não afeta a função renal e além de reduzir a glicemia de jejum, provoca redução de peso, da pressão arterial e da hemoglobina glicosilada, considerada hoje um marcador do bom controle do diabetes. 

O inibidor do SGLT2 está na fase III de estudos, aquela onde é permitido testes nos seres humanos, uma vez que sua segurança já foi testada exaustivamente em cobaias, sem efeitos danosos à saúde desses animais. Muito em breve ela será liberada para a comercialização e constará no receituário dos endocrinologistas, não como mais uma ferramenta para tratar diabetes, mas como uma medicação inovadora, com um mecanismo de ação totalmente diferente daquelas existentes, hoje no mercado. No entanto, é preciso que o diabético dê sua contribuição efetiva, pois nenhum medicamento funciona se não houver aderência adequada ao tratamento por parte do paciente. O sucesso do tratamento depende do maior interessado nele: o próprio diabético.


TAGS:

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.