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Creamor continua a gerar polêmica
”Deveras, a impetrante opera crematório que incinera resíduos hospitalares por quase cinco anos, período no qual assumiu compromissos com entidades privadas e com instituições públicas que agora, de inopino, se veem relegadas, com materiais hospitalares e resíduos nocivos acumulados em suas dependências, mormente nos casos de hospitais. Nesse passo, comprovou que nesta situação estão nosocômios e municípios, a exemplo de Santa Maria Madalena, além de instituições de pesquisa como a Fiocruz. Se por um lado o crematório pode causar incômodo à comunidade onde está instalado, mais danoso me parece a súbita interdição do estabelecimento em detrimento de hospitais e de outras comunidades, que foram surpreendidas com a questionável medida do Ibama, ao arrepio das atribuições do Inea, que por sua vez vem exercendo normalmente suas atribuições, a julgar pelos documentos trazidos na inicial.”
Esta pérola acima foi pinçada na sentença que cassou o ato de infração lavrado pelo Ibama, em relação ao funcionamento do Creamor (crematório de animais) situado no Córrego Dantas, município de Nova Friburgo. Pelo que se depreende, o julgador entendeu que entre uma meia dúzia de gatos pingados, e os interesses de hospitais e comunidades de outras localidades, que não teriam como se livrar de seus resíduos nocivos, venceu a maioria. Aos moradores daquele desafortunado bairro, que pagam seus impostos municipais, estaduais e federais, em última análise combustível da máquina administrativa, com a sua saúde posta em risco quando a fumaça negra, com odor insuportável, é lançada na atmosfera, através das fornalhas do Creamor, sempre na calada da noite, só resta rezar para não padecerem, num futuro não muito distante, de graves complicações respiratórias. O mais preocupante é o fato de frisar que o crematório já funciona há cinco anos, como se o fator tempo fosse prerrogativa para inviabilizar o pleito de uma comunidade, em prol de sua qualidade de vida ameaçada. Aliás, em 2010 os moradores do Córrego Dantas fizeram uma denúncia do Creamor, junto ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea), em função da fumaça preta e do mau cheiro que saíam de suas chaminés. O resultado dessa denúncia foi semelhante ao do se retirar o sofá da sala, pois em reportagem de maio de 2010, publicada no jornal A Voz da Serra, eles disseram o seguinte: “Após esse contato com o Inea, vários moradores confirmaram que a situação durante o dia melhorou bastante, com as chaminés da Creamor expelindo uma fumaça branca. No entanto, como a população agora está atenta, os caminhões com lixo hospitalar passaram a chegar à noite e é de madrugada, quando a maioria das pessoas dorme, que a fumaça preta sai da chaminé”.
Vale a pena transcrever de novo um dos trechos da monografia “Incineração e a Saúde Humana, estudo sobre os impactos da incineração na saúde humana”, de Michelle Allsopp, Pat Costner e Paul Johnston, realizada no Laboratório de Pesquisa do Greenpeace, na Universidade de Exeter, Inglaterra: “ É um erro comum crer que as coisas simplesmente desaparecem quando queimadas. Na verdade, a matéria não pode ser destruída ela apenas muda de forma. Após a incineração, os metais pesados presentes no resíduo sólido original são lançados junto com os gases pela chaminé do incinerador, associados a pequenas partículas; também estão presentes nas cinzas e em outros resíduos. A incineração de substâncias cloradas, como o plástico PVC, leva à formação de novos compostos clorados, como as dioxinas altamente tóxicas, que vão se juntar aos vários resíduos da incineração já mencionados”. Em outras palavras, os incineradores não resolvem os problemas dos materiais tóxicos presentes no lixo.
Creio que esse assunto não se esgota nessa simples liminar, e que urge um estudo sério, para definir de vez se a comunidade próxima ao Creamor pode dormir tranquila. Há de se questionar sempre se órgãos fiscalizadores como o Inea (Instituto Estadual do Ambiente), não estão sujeitos às injunções políticas. Para concluir, há uma pergunta que não quer calar: o que pensam as autoridades municipais sobre o problema em questão?
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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