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Conspiração Diabólica terá sido esse o recado das urnas?
Ao ler a coluna de Nelson Motta, em O Globo, na última sexta feira, 9, com o título de “Conspiração Diabólica”, pensei tratar-se de uma brincadeira; aliás, essa foi a conotação dada por Nelson Motta. Nela, o juiz Sérgio Moro teria cursado a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, para encobrir o fato de ser um contratado da CIA. Sua missão seria criar a Lava-Jato, com o intuito de enfraquecer a Petrobras; com isso suas ações perderiam valor e seriam compradas, a preço de banana, por petroleiras americanas. Era o início de um plano diabólico, gerado por mentes doentias, no Departamento de Estado.
Qual não foi minha surpresa, ao ler que tal absurdo, teria sido aventado por frei Leonardo Boff, amigo de longa data de Luís Inácio e um dos fundadores do PT, além de ser o criador da Teologia da Libertação, motivo pelo qual foi excomungado pela Igreja Católica.
Depois de 45 dias no velho continente, mais especificamente na França, pisei em terras brasileiras com a sensação de que uma onda de renovação tinha varrido o país. Bastaram poucos dias para me conscientizar de que a sociedade teria dado o seu recado, nas urnas, mas que o ranço de anos e anos de uma política de quinta categoria, não seria fácil de ser jogado no lixo. Basta ver a conduta de Eunício de Oliveira, presidente do Senado. Talvez, por não ter conseguido sua reeleição a senador, vingou-se do país, ao conceder aumento de 16,5 %, para os ministros do STF. A decisão do Senado estava aguardando ser pautada e poderia ter sido decidida pelo novo governo, a ser empossado no primeiro dia de janeiro de 2019.
Ainda no aeroporto Charles de Gaulle, no último domingo, 4, em função do fuso horário de apenas três horas entre a França e o Brasil, vi no portal Uol que o meu Fogão tinha ganhado do Corinthians e se afastado um pouco da zona da degola do Campeonato Brasileiro. Uma semana antes tinha visto o meu candidato ser eleito presidente do Brasil; pensei com meus botões vou voltar para outro Brasil. Ledo engano, pois a tão propalada alternância do poder, um dos pilares do regime democrático, acirrou ainda mais os ânimos, e o que vi foi uma cobrança sem paralelos para um vencedor que nem assumiu o cargo, ainda.
Mas, depois de muito pensar, cheguei à conclusão que o melhor é não mais me aborrecer e só voltar a comentar o fenômeno Bolsonaro, a partir de julho de 2019, quando ele já estiver a seis meses no cargo. Aí sim, poderá começar a ser julgado por erros ou acertos de sua gestão recém-iniciada. E por ironia do destino, o único candidato que escolhi e foi vencedor, não teve o meu voto, pois estava fora do país tanto no primeiro como no segundo turnos.
O recado das urnas foi dado, pois a grande maioria dos políticos profissionais e que tanto mal fizeram ao país, não conseguiu se reeleger; tanto é assim que muitas famílias com larga tradição nas eleições viram seus sucessores naufragarem de verde e amarelo. Vimos governadores de estados importantes da federação serem eleitos, Rio de Janeiro e Minas Gerais estão nesse rol, sem nenhuma tradição política, ilustres desconhecidos. Assistimos, incrédulos, a uma renovação sem precedentes do congresso nacional.
O que, na realidade, a sociedade brasileira espera é uma guinada na maneira de se fazer política, onde os anseios da população sejam o norte de seus novos representantes e não o contrário. O interesse coletivo tem de ser a meta a ser alcançada. Sabemos que isso é difícil, pois a história atual mostra que mesmo naqueles países com uma democracia há muito sedimentada, a classe política deixa a desejar. Na Europa, em países como a Alemanha, Suíça, França, Itália isso é patente, pois a desconfiança da população em relação a seus políticos é uma realidade.
Da mesma maneira que a vitória, sábado, do Botafogo sobre o Flamengo, alavanca sua permanência na elite do futebol brasileiro, espera-se que o novo presidente, ao assumir, dê início a uma retomada da confiança da população nos rumos do Brasil. Uma conspiração diabólica contra tudo de ruim que foi feito nesses últimos anos.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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