Clássico com torcida única é solução para estancar violência

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Semana passada, depois dos tristes acontecimentos no entorno do estádio Nilton Santos, antes do jogo Botafogo e Flamengo, o juiz Guilherme Schiling, do Juizado Especial do Torcedor e dos Grandes Eventos do Rio de Janeiro, decidiu em caráter liminar que os clássicos locais terão torcida única. Se foi uma medida acertada ou não, só o tempo dirá, mas que é preciso fazer alguma coisa, ninguém questiona, ainda mais após as cenas de barbárie que assistimos no domingo, em Curitiba. No entorno do estádio do Atlético Paranaense as torcidas do Coritiba e do Atlético se enfrentaram, em verdadeira batalha campal, e o ataque a um dos torcedores, agredido com ferocidade, foi chocante.

Mas, o tema é complexo, pois é da índole do brasileiro só reagir após o leite derramado. O estatuto do torcedor reza que baderneiros devem ser fichados e impedidos de retornar aos estádios por um tempo estipulado pela Justiça. No entanto, os facínoras da torcida corintiana que foram responsáveis pela morte de um menino de quatorze anos, no estádio Jesús Bermúdes, na Bolívia, estavam presentes no enfrentamento com a polícia militar, em plena reabertura do Maracanã, após as olimpíadas. Jogavam Flamengo e Corinthians, em 23 de outubro do ano passado, pelo campeonato brasileiro. Ficaram detidos na Bolívia por quase seis meses e no Rio por cerca de 80 dias. Na realidade, a entrada deles em qualquer estádio do Brasil deveria ser proibida em definitivo. Não só deles, mas a de todos os arruaceiros que só vão aos estádios para criarem confusão. Mas, o brasileiro, em geral, e as autoridades, em particular, têm memória curta. 

Que me desculpem meus amigos flamenguistas, mas sua torcida sempre foi violenta e criadora de tumultos por onde passa. Tanto é assim, que um conhecido estabelecimento de Cachoeiras de Macacu preferia fechar suas portas quando o Flamengo subia a serra, para enfrentar o Friburguense. Além de depredarem a lanchonete, muitos saíam sem pagar a conta. Num jogo recente, de basquete, também com torcida única, contra o Vasco da Gama, brigaram entre si provocando uma grande confusão. Aliás, não é de hoje que a torcida rubro-negra tem essa fama. Lembro-me que quando frequentava o antigo Maracanã, nas décadas de 60, 70 e 80, o único clássico que pensava duas vezes antes de ir era o Flamengo contra o Botafogo.

Em vez de decretar torcida única, o Juizado Especial do Torcedor deveria exigir dos grandes clubes do Rio o fim das “torcidas organizadas”. Elas são mantidas pela diretoria dessas agremiações, com entradas pagas e uma série de mordomias. A finalidade é muito variada, pois muitas estão a serviço da oposição, para desestabilizar a diretoria eleita. Não é justo que torcedores se desloquem de vários pontos do estado, gastando uma soma respeitável em dinheiro, para apoiar seus times de coração e as diretorias financiem essa horda de baderneiros, de facínoras mesmo. Torcedor que é torcedor não se presta a esses papéis. A não ser quando atacados e em defesa de sua própria pessoa e de sua família.

Assim, uma sugestão seria torcida única quando jogasse o Flamengo contra qualquer outro time. Já que ela é a maior do estado e do Brasil, exige quotas maiores da televisão, o clube não precisa dos torcedores rivais para engordar o borderô.  Seus inúmeros apaixonados seriam suficientes para sustentar o rubro-negro da Gávea. Os demais mortais continuariam a jogar em estádios abertos para todos, razão maior do futebol. Do jeito que está, corremos o risco de afastar as famílias dessa festa popular e, se são das crianças que saem os futuros torcedores, a tendência é acabarmos com a paixão que o futebol sempre despertou nelas. 

Se o objetivo do juiz Guilherme Schiling foi induzir autoridades, dirigentes e torcedores a fazerem um exame de consciência e solucionar de vez essa nódoa que tanto mal faz ao futebol do Rio de Janeiro, acertou em cheio. Mas, punir aqueles que se dispõem a sair de casa para ver espetáculos muitas vezes medíocres e debaixo de um sol abrasador, por causa de uns poucos baderneiros e criminosos, é uma inversão de valores. 

 

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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