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A cidade medieval de Morat
A Suíça é, na minha opinião, o país mais bonito e mais disciplinado da Europa. Suas cidades, com população que dificilmente ultrapassam os vinte mil habitantes, são limpas, de uma beleza plástica incontestável, verdadeiros cartões-postais. No entanto, ostenta um dos maiores custos de vida, só perdendo para a Noruega. Ou seja, a terra de Guillaume Tell é muito cara, e para fazer turismo o roteiro tem de ser muito bem pensado e pesquisado. A diferença do Euro para o Franco-Suíço não é muita, questão de centavos, no entanto, como os salários lá são bem mais altos que nos outros países, o custo de vida é maior. Mas, infelizmente, o Brasil é que torna-se cada vez mais caro, em função do lucro estratosférico das multinacionais e por ser uma terra de ninguém: tive de comprar Atorvastatina de 20 mg, medicação para o Colesterol e paguei 7,10 euros, que pelo cambio de ontem corresponderia a 27 reais. Em qualquer farmácia de Nova Friburgo esse medicamento custa acima de 60 reais, ou seja quase três vezes mais.
No domingo passado fui visitar a cidade de Morat, situada a leste do lago de Morat e em frente ao monte Vully, a quatorze quilômetros de Fribourg; aliás, o lago tem esse nome por causa da cidade. Dos seus 6.490 habitantes, segundo o senso de 2013, 76% falam alemão, 18% francês e 2% italiano; no entanto até o final do século XV, o francês era a língua oficial, sendo que o alemão só se tornou o idioma majoritário a partir do final século XVII. Hoje, existe uma tendência a oficializar o status bilíngue da cidade.
Turística em sua essência, ela oferece várias curiosidades aos visitantes, tais como seu imponente castelo, suas muralhas de proteção, suas arcadas e suas ruelas pitorescas. Em função desse forte apelo turístico foi criado um regulamento estrito para a preservação das construções e a proteção do patrimônio. Assim, a cidade velha e a borda do lago têm o conjunto e seu formato original preservados, em sua totalidade.
As arcadas, situadas em ambos os lados da rua principal, são uma maneira interessante de proteger o pedestre em dias de chuva (na época de sua fundação o guarda-chuva ainda não tinha sido inventado) garantindo o funcionamento pleno do comércio. Nada mais são do que ruas sob marquise, em arco, mas conferindo uma beleza plástica incomum e tornando-as mais charmosas. Encontramos esse tipo de construção na Praça de Vosges, em Paris e em Berna, capital da Suíça.
A porta de Berne, entrada principal de Morat, data de 1293, mas foi destruída e reconstruída ao longo dos séculos em função de guerras e incêndios. A atual é da segunda metade do século XVIII e quando a vi, a primeira imagem que me veio à cabeça foi a torre da cidade de Campos do Jordão, no estado de São Paulo; são muito parecidas.
Em todas as cidades da idade média, as muralhas que as cercam são uma constante, para proteção dos antigos habitantes. Muitas ostentam também uma torre circular, mais alta que as antigas construções, de onde se tinha uma visão de trezentos e sessenta graus. Um observador ficava, lá em cima, de guarda dando sinal caso invasores se aproximassem. As muralhas de Morat foram construídas e, talvez reconstruídas, em várias épocas e com material diferente, como atestam escavações feitas no local.
Já o prédio da prefeitura data de 1416, tendo sido reconstruído após um incêndio. Entre 1748 e 1750 ele foi modificado, tendo o tamanho atual, que foi aumentado. A torre, uma construção barroca e o relógio, foram acrescentados em 1816; aliás, sua função é apenas de marcar as horas, sem a animação mecânica, característica de muitos relógios de cidades europeias. O térreo, em tempos passados foi primeiro um arsenal e depois mercado, hoje é uma sala de recepções.
Quando estava próximo à torre de Berna, para entrar em Morat, começou um desfile de caros antigos, com os mais variados modelos e, na sua maioria, carros europeus da década de trinta em diante. Um luxo e até o meu Gordini, ano 1968, estava lá.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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