Chapecó, uma cidade enlutada

segunda-feira, 05 de dezembro de 2016

Na madrugada de segunda feira passada, 28 de novembro, o Brasil tomou conhecimento da tragédia aérea que dizimou o time da Chapecoense, da cidade de Chapecó. Representante do oeste catarinense, esse jovem clube, pois foi fundado em 1973, enfrentaria a equipe do Atlético Nacional de Medellín, pelo título da copa Sul-americana. A ganância, a incompetência e a irresponsabilidade de um piloto venezuelano, acobertado por autoridades bolivianas sem a mínima preocupação com a vida humana, pôs fim ao sonho de um time, de uma cidade.

Dos 22 jogadores, só três escaparam com vida; morreram em solo colombiano 19 atletas da Chapecoense, 21 colegas da mídia distribuídos entre fotógrafos, cinegrafistas locutores, comentaristas e jornalistas e 23 membros do clube, entre diretores e comissão técnica, um empresário convidado e sete tripulantes. Escaparam, ainda com vida, um repórter e dois membros da tripulação.

As manifestações de pesar surgiram de todas as partes, pois a maior tragédia aérea ocorrida com um time de futebol deixou de luto o mundo do velho esporte bretão.

No entanto, uma foi a mais emocionante de todas, daquelas capazes de fazer chorar corações os mais durões ou calejados pelas vicissitudes. Refiro-me àquela de quarta feira, dia do jogo, no estádio Atanásio Girardot, em Medellín, na Colômbia. Como num dia de jogo, a torcida atleticana lotou as arquibancadas, onde predominavam as cores branca e verde da Chapecoense, acenderam velas, jogaram ramalhetes de flores, e cantaram o“força chape”, como se este fosse o seu clube do coração, choraram como se fossem eles a perderem entes queridos.

Fora do estádio o número de pessoas, talvez fosse até maior do que aqueles que estavam dentro, mas imbuídos da mesma solidariedade, da vontade de consolar os familiares dos mortos e homenagear aqueles que morreram em busca de um ideal, que era o de ser campeão da Sul-americana. A cerimônia, como um todo, organizada em tão pouco tempo foi de arrepiar. Tiro o meu chapéu e me torno fã de carteirinha do povo de Medellín, do povo colombiano.       Obrigado Colômbia pelo tratamento aos mortos, mas principalmente aos sobreviventes, atendidos em hospitais modernos, com equipamento de primeira e com médicos de gabarito, responsáveis maiores pela melhora dessas seis pessoas que escaparam da morte milagrosamente.

Fernando Calazans, jornalista esportivo do jornal O Globo e André Loffredo, comentarista do canal Sport TV, questionaram se em situação idêntica, o torcedor brasileiro faria a mesma demonstração de apoio e solidariedade. Não tenho a menor dúvida em afirmar que jamais o faria, haja visto o lamentável comportamento da torcida do Flamengo vaiando e ridicularizando Ricardo Gomes, na época treinador do Vasco da Gama, que sofreu um AVC, em pleno Maracanã, durante um jogo entre o rubro negro e o time da cruz de malta. Não houve nenhum sentimento de compaixão, de solidariedade por um ser humano que passava por momentos difíceis. Deram uma verdadeira aula de incivilidade, demonstraram toda a boçalidade de que são capazes, pessoas sem um mínimo senso de humanidade.

Mas, o colombiano fez mais, na última sexta feira, 2, ao postar-se nas ruas para o último adeus aos brasileiros, cujas urnas funerárias foram transportadas até a base aérea da cidade, nas proximidades do aeroporto José Maria Córdoba, para o voo de retorno ao Brasil. Os militares colombianos fizeram questão de fazer uma fila dupla, perfilados em sinal de respeito, através da qual os caixões passaram e ficaram aguardando a transferência para os aviões Hércules C-130 da Força Aérea Brasileira. Os três aviões começaram as manobras de decolagem às 19h22 (horário de Brasília), com previsão de chegada a Chapecó às oito da manhã de sábado, 3.

Com uma hora de atraso, o primeiro Hércules da FAB aterrissou no aeroporto de Chapecó; chovia, como se a natureza em lágrimas acolhesse seus heróis em seu último voo antes do repouso definitivo, em solo brasileiro. Que esse triste final reforce uma lição muito certa e que o homem esquece com frequência: “o barato sempre sai caro, muito caro”. No caso presente foi a soma de R$ 10 mil e uma hora de atraso na chegada a Medellín. Quantia irrisória, mas que teria poupado a vida preciosa de 70 pessoas.

Que todos descansem em paz, menos o piloto que com sua ganância foi o responsável direto por toda essa tragédia e, que consciente das penalidades as quais estaria sujeito, escondeu até o último momento as verdadeiras causas da pane no avião.

Para terminar uma frase dita por Jair Ventura, técnico do Botafogo, que retrata a comoção nacional: “É como se cada um de nós tivéssemos um parente naquele avião”.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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