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A Carta dos Advogados é para ser levada a sério ou jogada no lixo?
Parece piada de mau gosto. E é. Assim pode ser definida a carta assinada por 105 advogados, entre eles defensores dos réus da operação Lava-Jato. Nessa missiva, com a assinatura de alguns causídicos de peso da advocacia brasileira, os autores reclamam de abusos na condução das investigações e nos processos sobre o esquema de corrupção na Petrobras. Aliás, para não deixarem dúvidas sobre suas condições de juristas, usam na tal carta palavras de impacto jurídico, mas desconhecidas pela maioria dos brasileiros, como por exemplo, o vocábulo “menoscabo”. Para os simples mortais ela significa menosprezo, desprezo, indiferença.
Chegam ao cúmulo de duvidarem da capacidade de juízes, pelo menos daqueles que exercem com zelo e probidade suas funções, ao afirmarem: “Magistrados das mais altas cortes estão sendo atacados ou colocados sob suspeita para não decidirem favoravelmente aos acusados”. E não conseguem esconder o ciúme e o rancor contra o juiz Sérgio Moro ao declararem que “é inconcebível que os processos sejam conduzidos por um magistrado que atua com parcialidade, comportando-se de maneira mais acusadora do que a própria acusação”. É bom lembrar que Sérgio Moro não trabalha sozinho, mas faz parte de uma equipe; ele pode ser tudo menos ingênuo, para querer trabalhar por conta própria. É tanta bandalheira, que um único juiz não daria conta do recado.
Agora defender bandido é uma prerrogativa de advogados num país democrático, defesa essa que é assegurada pela própria constituição; no entanto, querer enganar a população já é outra história. As provas mostram, pela primeira vez, o que todo brasileiro inteligente já tinha percebido e não tinha como afirmar serem verdadeiras; são sempre as mesmas empreiteiras a prestarem serviço ao governo. E claro está que para conseguirem essas obras, algum gesto teria de ser feito em troca, pois a máxima popular diz que ninguém dá nada de graça. Por isso essa tsunami de corrupção que varre o país. Por isso esse “menoscabo” generalizado contra a classe política.
É bem verdade que corrupção existe desde Adão e Eva (sendo esta, talvez, a primeira corrupta da história da humanidade) e não é prerrogativa do Brasil. No entanto, com nossa mania de grandeza e ajuda de nossos empresários e políticos, conseguimos suplantar em muito a média mundial.
A quase certeza da impunidade deve ser o que leva nossos políticos e empresários a agirem com tanta desfaçatez. Nosso atual presidente do senado, Renan Calheiros teve de renunciar, em 4 de dezembro de 2007, à presidência da casa à época, para não ter seu mandato cassado pela comissão de ética do Congresso Nacional; fora acusado de usar 'laranjas' para comprar um grupo de comunicação em Alagoas. Por sermos um país de brincadeira, nas eleições seguintes voltou nos braços do povo. Fernando Collor de Melo, presidente do Brasil de triste memória, mesmo renunciando ao cargo mais expressivo da política nacional, foi cassado, em 29 de dezembro de 1992, e teve seus direitos políticos suspensos por oito anos. Volta como senador da república pelo mesmo estado de Alagoas em 2007 e, de novo tem seu nome envolvido na Lava-Jato, suprassumo da corrupção brasileira. A lista é enorme, com nomes como o do ex-ministro das Minas e Energia, Edson Lobão e do senador Romero Jucá, defendidos por um dos signatários da carta, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, além de Eduardo Cunha presidente da Câmara dos Deputados e Renan Calheiros, de novo presidente do Senado.
Não tivessem os deputados as prerrogativas que desfrutam, a cadeia da Polícia Federal de Curitiba seria pequena para tantos pretendentes. O azar dos empresários é que são simples mortais e, portanto, mais fácil de serem trancafiados.
Partindo-se do princípio de que lugar de ladrão é na cadeia, independente da condição social e financeira, e de que as provas levantadas até agora mostram o despudor e a cara de pau de políticos, apadrinhados e empresários, o brasileiro digno e honrado deve estar a se perguntar o que leva tão ilustres advogados a embarcarem nessa empreitada. Defender bandidos é um direito de advogados, atacar quem os desnuda baseados em provas, diante da opinião pública, é uma burrice.
É preciso assinalar que os empresários aos quais esse artigo se refere, são aqueles implicados na Lava-Jato; quanto aos políticos que se proclamam sérios deveriam escrever uma carta aberta à população, repudiando aqueles que denigrem a classe. Seria uma forma de se preservarem.

Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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