Carta aberta à presidenta Dilma

quarta-feira, 26 de junho de 2013

A sua fala do dia 21 de junho, em cadeia nacional, foi patética, típica de uma pessoa impotente e que tem consciência de ter falhado como chefe de estado. O país pega fogo pela omissão da classe política e de seus dirigentes, no entanto, a Sra. acena com medidas típicas de quem acha que esta tratando com verdadeiros idiotas, debiloides mesmo. Transcrevo abaixo carta de uma médica de uma cidade de interior, dirigida a Sra. para acabar de vez com essa ideia casuística eleitoreira, sobre a contratação de médicos cubanos. Já que a Sra. gosta tanto de esquerdistas, por que não russos, coreanos do norte ou albaneses?

 Essa cidade de interior é Cabo Frio, um balneário muito conhecido do litoral do Estado do Rio de Janeiro. Imagina como deve ser a saúde pública no interior dos estados nordestinos, feudo de políticos insensíveis e aproveitadores e agora preocupados, com o repúdio da sociedade:

"Dirigido a todos os amigos médicos tudo o que uma médica brasileira, que trabalha no interior, quer falar para a presidenta hoje, 21/06/2013.

Dilma, deixa eu te falar uma coisa! Tenho sete anos de formada pela Universidade Federal Fluminense e, por opção de vida, trabalho no interior. Já trabalhei em cada canto! Você não sabe o que eu já vi e vivi, não só como médica, mas como cidadã brasileira. Já tive que comprar remédio com meu dinheiro, porque a mãe da criança só tinha R$ 2,00 para comprar pão. Por que comprei? Porque não tinha vaga no hospital para internar e eu já tinha usado todos os espaços possíveis (inclusive do corredor!) para internar os mais graves. Você sabe o que é puxadinho? Agora, já viu dentro de enfermaria? Pois é, eu já vi. E muitos. Sabe o que é mãe e filho dormirem na mesma maca porque simplesmente não havia espaço para sequer uma cadeira?

Já viu macas tão grudadas que na hora da visita médica era impossível fazê-lo na enfermaria? Já trabalhei num local em que tive que autorizar o familiar a trazer comida (não tinha, ora bolas!) e já trabalhei em outro que lotava na hora do lanche que era distribuído aos que aguardavam na recepção. Já esperei 12 horas por um simples hemograma. Já perdi paciente antes de conseguir uma mera ultrassonografia. 

Já deixei de conseguir vaga em UTI pra doente grave porque não tinha um exame complementar que justificasse o pedido. Já fui de ambulância com um prematuro de 1 kg por 40 km para vê-lo morrer na porta do hospital sem poder fazer nada. 

Tem mais, calma! Já tive que escolher direta ou indiretamente quem deveria viver ou morrer... Já ouvi muito desaforo de paciente revoltado com tanto descaso e que na hora da raiva desconta no médico, na enfermeira, na recepcionista, no segurança, mas nunca em você. Já ouviu alguém dizer na tua cara: meu filho vai morrer e a culpa é tua? E a culpa nem era minha, mas era tua, talvez. Ou do teu antecessor. Ou do antecessor dele... Já vi gente morrer! Óbvio, médico sempre vê gente morrendo, mas de apendicite, porque não tinha centro cirúrgico no lugar, nem ambulância pra transferir, nem vaga em outro hospital; agonizando de insuficiência respiratória, porque não tinha laringoscópio, não tinha tubo, não tinha respirador; de infecção, porque não tinha antibiótico, não tinha isolamento, não tinha UTI. A gente é preparada para ver gente morrer, mas não nessas condições. Ah! Dilma, você não sabe mesmo o que eu já vi! 

Mas deixa eu te falar uma coisa: trazer médico de Cuba, de Marte ou de qualquer outro lugar, não vai resolver nada, você sabe disso; só está tentado enrolar a gente com essa conversa fiada. As pessoas adoecem pela fome, pela sede, pela falta de saneamento e educação e quando procuram os hospitais, despejam em nós todas as suas frustrações, medos, incertezas... O problema do interior não é falta de médico, é falta de estrutura, de interesse, de vergonha na cara. Na tua cara e dessa corja que te acompanha! Não é só salário que a gente reivindica. Eu não quero ganhar muito, mas exercer a medicina com dignidade. Alias, o desejo da maioria dos médicos brasileiros. Quer um conselho? Pare de falar besteira em rede nacional e admita: já deu pra vocês. Eu sei que na hora do desespero, a gente apela, mas vamos combinar: você abusou! Se você não sabe ser ‘presidenta’, desculpe-me, mas eu sei ser médica, mas por conta da incompetência de vocês, não estou conseguindo exercer minha função com louvor! Não sei se isso vai chegar até você, mas já valeu pelo desabafo!”

Fernanda Melo, médica, moradora e trabalhadora de Cabo Frio, cidade da baixada litorânea do estado do Rio de Janeiro.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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