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Cambucá: uma árvore da Mata Atlântica
sábado, 16 de fevereiro de 2013
Apesar de ser árvore símbolo de um município, fazer parte de uma cantiga popular e produz um fruto muito apreciado pelos que já o saborearam, o Cambucá é desconhecido da maioria dos brasileiros, aparecendo na lista das espécies em extinção. Árvore nativa da Mata Atlântica, portanto genuinamente brasileira, tem propriedades alimentícias e poderes medicinais podendo ainda ser industrializada e servir de reflorestamento para recuperação ambiental.
Seu nome científico é Plinia edulis (antiga Marlieira edulis), da família da Myrtaceae e pode ser encontrada desde Santa Catarina até o Rio de Janeiro.
A partir da lei municipal 605/2003, foi transformada em árvore símbolo do município de Cantagalo, no estado do Rio de Janeiro, numa tentativa de preservá-la. Considerada uma raridade da Mata Atlântica, é uma espécie em extinção e sua presença, hoje, está restrita aos quintais domésticos, daqueles que o conhecem e apreciam seu fruto.
Da mesma família da jabuticabeira, o cambucazeiro tem um fruto amarelado, quando maduro, muito saboroso, medindo entre 2,5 e 4 cm de diâmetro, porém desconhecido da grande maioria da população, ficando restrita aos habitantes de Cantagalo. Quem o conhece, como Eduardo Souza, colunista de O Guarujá, de Ubatuba, São Paulo, ainda sente a boca encher-se de água quando mencionam o cambucá. Isso o remete aos tempos de infância, quando com estilingue nas mãos, embrenhava-se nas matas para arrancar a estilingadas os frutos da árvore. Outros, como Regina Thurler, lembram-se de uma cantiga dos tempos de infância que dizia mais ou menos assim: “Laranja madura; melão; cambucá; pimenta de cheiro, mingau de cará”.
Além de produzir um fruto comestível, incluindo-se entre as árvores com propriedades alimentícias, o cambucazeiro também faz parte da flora medicinal brasileira. Suas folhas, sob a forma de infusão, de acordo com o Dr. J. Monteiro da Silva, são muito úteis no tratamento das bronquites, no combate à tosse e, sobretudo, na coqueluche, uma doença que tanto atormenta nossas crianças. Serve também para aqueles que necessitam melhorar as defesas orgânicas, por serem de constituição física frágil.
Com uma altura que varia de cinco a dez metros, a madeira do cambucá tem valor comercial, sendo usada na fabricação de cabos de ferramentas e de alguns instrumentos de uso na agricultura. Pode ser aproveitada também na construção civil e mesmo na fabricação de móveis.
O cambucazeiro é uma arvore frondosa, de rara beleza, cuja floração é branca e os frutos, amarelados. Sendo da família da jabuticabeira, tanto flor como fruto, nascem colados ao tronco ou nos galhos, o que lhe garante valor ornamental em função do contraste de cores, diferentemente da sua parenta mais conhecida.
Seus frutos são também apreciados por um grande número de pássaros, o que aumenta seu valor como árvore, em função da sua contribuição à alimentação da fauna local.
Por isso, os ecologistas estão investindo na sua cultura, como é o caso do município de Cantagalo, onde a Sociedade Ecológica Cantagalense (Secan) e o Instituto Estadual de Florestas (IEF) formaram uma parceria para a produção de mudas, no Horto Florestal de Cantagalo. Assim, esperam reviver o Parque Municipal de Cambucás, que infelizmente conta hoje com apenas uma única representante.
Essa ilustre desconhecida tem apenas um senão: leva um tempo razoavelmente grande para se tornar adulta e dar frutos. Com dois anos de idade, atinge mísero metro e meio, menos da metade da sua altura quando adulta.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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