Brasileiro naturalizado pode se tornar primeiro deputado franco-brasileiro

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Em 1986 o gaúcho Eduardo Cypel, então com dez anos de idade, mudou-se para França levado pelos pais. Em 1998 conseguiu naturalizar-se e, agora, nas eleições legislativas desse fim de semana e do próximo, pode-se tornar o primeiro deputado franco-brasileiro eleito para a Assembleia Nacional francesa. Aliás, caso isso se concretize, ele, com certeza, poderá contribuir e muito num maior entrosamento político entre a França e o Brasil.

Eduardo está filiado ao PS (Partido Socialista), mesmo partido do presidente François Hollande, e em entrevista ao correspondente do jornal O Globo declarou: “É fundamental conquistarmos a maioria das cadeiras, do contrário Hollande não poderá presidir o país corretamente”.

De simples militante do partido, ele conseguiu em 2008 ser eleito vereador na cidade de Torcy. Atualmente ele é conselheiro regional da Île de France, o equivalente a deputado estadual, no Brasil.

Numa entrevista no início de maio ele disse: “A partir de segunda-feira, eu começo minha campanha para as eleições legislativas; o objetivo é criar uma maioria parlamentar, para que o projeto de François Hollande seja posto em prática”. Aliás, uma das metas do PS francês é obter maioria na assembleia, para evitar o que eles chamam de regime de coabitação, em que o mandatário do país não obtém maioria e depende de acordos com outros partidos, para por em prática seus planos de governo.

É importante destacar a capacidade que o brasileiro tem de se adaptar e vencer as dificuldades que se lhe apresentam e que, a meu ver, é o seu diferencial em relação aos cidadãos de outros países. Afinal ser vereador, deputado estadual e postulante a uma cadeira na câmara federal, num país em que os eleitores são muito exigentes, politizados e não se deixam enganar com facilidade pela lábia típica dos políticos daqui, não é para qualquer um.

Em seu blog “eduardorihancypel.fr” Eduardo diz que foi na cidade de Créteil que ele cresceu e aprendeu o Francês, numa classe Clin (classe de iniciação para os não francófonos) , ou seja para os nascidos em países onde a língua francesa não é a oficial. Foi nos bairros populares e na escola pública que ele construiu sua vida na França e muito cedo tomou gosto pelo engajamento, consciente da oportunidade de tornar-se um cidadão francês, como de fato ocorreu em 1998. A paixão pelo debate e a política sempre foi um dos objetivos de sua vida, com ênfase na justiça social e uma certa ambição do “viver em sociedade”. Nesse blog ficamos sabendo que Eduardo é formado em filosofia e entrou para o Partido Socialista em 2004.

Que bom saber que os nossos concidadãos não se distinguem e se tornam conhecidos, além mar, apenas no terreno do esporte e de outros tipos de trabalho. É bom saber que brasileiros que optaram por uma outra nacionalidade têm condições de se distinguir e até seguir carreira política, com toda a gama de desconfiança que um estrangeiro carrega em suas costas.

Apesar de não conhecer pessoalmente Eduardo Cypel, torço para que ele consiga se tornar o primeiro deputado federal franco-brasileiro da república francesa. Esse eu invejo, não por ser deputado, mas por ter a nacionalidade francesa.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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