“Alzheimer, o mal que imobiliza a ciência”

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Talvez, o ano de 1901 possa ser marcado como o período em que se concretizou o Alzheimer como uma nova doença neurológica. “August D, que sempre fora uma mulher saudável, educada e um pouco tímida, foi internada no Hospital Municipal de Lunáticos e Epiléticos de Frankfurt no dia 25 de novembro de 1901, aos 51 anos. Entrevistado pelo médico que a atendeu, seu marido contou que os problemas haviam começado seis meses antes com uma súbita e escandalosa crise de ciúme seguida de perda progressiva da memória. Aos poucos August foi se tornando ansiosa e hostil. Por se tratar de um caso incomum, o jovem médico avisou o diretor do hospital. Alois Alzheimer visitou a paciente no dia seguinte.”

Em 1906, com a morte de August D, Alzheimer recebeu seu cérebro para estudos histopatológicos aos quais se dedicava; foi quando descreveu um depósito incomum, no córtex cerebral, de uma substância desconhecida, hoje chamada de proteína beta amiloide, que pode ser uma das responsáveis pelo início dos sintomas da doença. Aliás, esse nome se deve aos estudos do doutor Alois Alzheimer, que relacionou os sintomas da paciente August D, com o acúmulo proteico descrito acima. Em sua homenagem, a doença de Alzheimer tem esse nome.

Antes de prosseguir, devo dizer que o título desse artigo está entre aspas por não ser meu. Ele pertence a uma matéria publicada no jornal Correio Braziliense, do último domingo, 10, que despertou minha curiosidade. A doença de Alzheimer pode ser considerada o mal do século, no campo da Neurologia. A estimativa é de que acometa 75 milhões de pessoas em 2030 e 132 milhões, em 2050. Claro está que o aumento da expectativa de vida da população mundial contribuiu em muito para o número crescente de casos diagnosticados; no Brasil, na década de 1960 ela era de 48 anos passando para 73,4 em 2010. Em função da maioria dos doentes apresentar os primeiros sintomas a partir da quarta década de vida, muitos pacientes vieram a óbito sem um diagnóstico preciso.

Mas, se por um lado a certeza do diagnóstico ficou mais apurada, as pesquisas para se descobrirem a verdadeira ou as verdadeiras causas dessa patologia e a descoberta de medicamentos para o seu controle ou cura, é um fracasso. Segundo a matéria do Correio Braziliense mais de um trilhão de dólares foi gasto, sem que até agora nenhum tratamento eficaz tenha tido êxito. Várias drogas foram testadas na fase I e II, em animais, mas fracassaram na fase III quando se iniciam os testes em humanos.

No entanto, começam a surgir relatos de que é possível retardar ou mesmo reverter os sintomas da doença de Alzheimer, que não seja através do uso de medicamentos. E, o que é importante a meu ver, esses estudos foram realizados no Brasil, mais precisamente na USP (Universidade de São Paulo). Foi assim que camundongos transgênicos, usados como modelo de Alzheimer, foram submetidos a um ambiente com muita atividade física e social. Ao final de quatro meses de estudo, comparados com camundongos sem esse estímulo, houve uma redução de 69,2 % nas placas beta amiloide e o aumento de uma proteína implicada na degradação delas.  Além disso, se observou uma melhora de 25,4 % nos testes cognitivos e físicos.

Esse estudo corrobora a afirmativa de que essas atividades ajudam a proteger o cérebro e confirmam o que nossos avós já diziam ao afirmarem que uma alimentação saudável, muita atividade física e estudar muito são importantes para uma boa saúde física e mental. Segundo a pesquisadora da USP, Tânia Araújo Viel, embora não se saiba exatamente como, esses estímulos contribuem para enfrentar o envelhecimento cerebral ao aumentar o fluxo sanguíneo e a oxigenação do cérebro. Ainda, segundo ela, essas estratégias criam reservas cognitivas, funcionais e estruturais no cérebro. Portanto, fazer exercícios e manter a mente ativa podem não evitar o aparecimento da doença, mas poderiam retardar o seu início.

Por isso, pessoas da terceira idade frequentando academias de ginástica, cursos de língua estrangeira ou mesmo bancos universitários não deve ser encarado como uma tentativa de se manter jovem, mas como prevenção de uma doença devastadora e cruel tanto para o paciente como para os familiares.

Muito ainda tem de ser feito até que se conheçam os mecanismos que desencadeiam o processo de destruição dos neurônios, levando à perda da memória, além da descoberta dos medicamentos que possam deter ou mesmo curar, em definitivo, a doença de Alzheimer.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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