A redentora completa 50 anos

terça-feira, 01 de abril de 2014

A redentora já nasceu mal, pois comemorada em 31 de março foi um subterfúgio criado pelos militares, afinal o 1º de abril é o dia universal da mentira. Na realidade, o maluco beleza, General Mourão Filho, partiu de Juiz de Fora na noite do último dia de março de 1964, contrariando ordens, e só chegou ao Rio de Janeiro no primeiro dia de abril, do mesmo ano.

O início dos anos 60 foi um período conturbado, em plena guerra fria, e com Cuba e seu ditador sanguinário tentando carregar a América do Sul para os braços da mãe Rússia, expoente maior do comunismo internacional. Treinando jovens inexperientes ou experientes até demais, formou uma legião de "revolucionários” que tocaram fogo nos países do cone sul e subverteram a ordem vigente, numa tentativa de demolir o estado de direito e implantar o regime comunista nessa região.

De quebra, inventaram um médico ensandecido, de nome Guevara, argentino de nascimento, cujo prazer de matar era contrário a tudo o que aprendera nos bancos da faculdade de Medicina. Na falta de ídolos tornou-se, mais pela propaganda, ícone de uma juventude que buscava se afirmar, tendo como espelho o movimento estudantil desencadeado na França naquela época.

Fala-se muito, hoje, da ditadura imposta pelo regime militar e das muitas arbitrariedades, torturas e assassinatos cometidos pelas forças de repressão. No entanto, é preciso que haja um forte poder de discernimento, o que, na realidade, falta a ambos os lados. Tudo foi feito em nome do povo, mas ele não foi consultado se queria viver sob um regime comunista, como também não o foi se queria viver sob uma ditadura do porte daquelas criadas por Hitler e Stalin, no tocante ao desrespeito aos direitos humanos. Na realidade, a índole do brasileiro é incompatível com ambos os regimes citados. Somos mais chegados ao Anarquismo, filosofia que engloba teorias, métodos e ações que objetivam a eliminação total de todas as formas de governo compulsório e de Estado; aliás, Anarquia significa ausência de coerção e não a ausência de ordem. De um modo geral, os anarquistas são contra qualquer tipo de ordem hierárquica que não seja livremente aceita  e, assim, preconizam os tipos de organizações libertárias baseadas na livre associação.

Os grupos terroristas tipo ARN, Var Palmares, etc. cometeram, também, muitos assassinatos, feriram muitos inocentes em atos terroristas, em suma provocaram uma reação das forças de segurança, pois elas existiam e existem para assegurar o estado de direito, flagrantemente desrespeitado naqueles tempos. Tivéssemos não um frouxo, mas um presidente de verdade, talvez muita coisa não tivesse acontecido. Aliás, lugar de presidente não é em comemoração do 40º aniversário da Associação de Sargentos e Subtenentes da Polícia Militar, fazendo discurso, como aconteceu na noite de 30 de março, antevéspera do golpe que destituiu Jango.

Os centros de torturas e assassinatos criados a partir de 1968, com o ato institucional nº 5, foram de uma burrice sem precedentes, fazendo tombar um manto negro sobre o país e manchando para sempre as forças armadas brasileiras. Prisões para presos políticos sempre existiram, mas deveriam seguir uma ética e uma moral que faltaram em 1964. Aliás, não se entende a posição do Itamaraty de hoje, acobertando regimes como os da Venezuela, do Equador, da Bolívia, de algumas ditaduras africanas que repetem as masmorras de 1968, onde muitos dos atuais dirigentes do Brasil sentiram o peso da repressão.

Se os militares tivessem cassado os corruptos da época, e eram muitos, e devolvido o poder aos civis em 1969, como era a ideia inicial dos gestores de 1964, talvez a história fosse outra.

Da mesma maneira que os militares se recusam a assumir seu erros, os revolucionários da época também se recusam a fazê-lo. Portanto, o que nos falta é um mea culpa coletivo que ponha um fim a esse período negro da história do Brasil. 


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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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