A injustiça dos salários no Brasil

sábado, 04 de agosto de 2012

A grande diferença entre os parasitas que ocupam as cadeiras da câmara e senado federais e os funcionários públicos é o fato do aumento dos primeiros ser por decreto e o dos demais, após longas e desgastantes rodadas de negociações. Enquanto os funcionários, todos oriundos de concursos públicos difíceis, ralam de segunda a sexta, deputados e senadores trocam milhões de reais em troca de quatro anos de bonança, com expediente de terça a quinta e com todas as despesas pagas. Essa alegação não é invenção minha, basta ver a estimativa dos gastos de campanha de vereadores e prefeitos para as eleições de outubro, mesmo nas cidades mais pobres do Brasil. Daqui a dois anos será a vez dos candidatos a presidente, governador, deputados e senadores, quando a conta ultrapassa a cifra dos milhões de reais.

O mais chocante é que não há necessidade de greve quando a classe política decide se aumentar, nem há ameaças por parte de presidência da república, que também se locupleta desse aumento. No outro lado da corda, as ameaças de corte de ponto, de substituição dos funcionários federais pelos estaduais, para que os serviços não parem, é uma constante. Vai ser muito engraçado ver barnabés estaduais, cujos salários são mais pífios que o dos federais, assumirem uma tarefa que não é a sua.

A desculpa de que as sobras da arrecadação estão sendo direcionadas para incentivos ao crescimento da indústria e do comércio, para estimular o aumento de consumo e manter a economia em movimento é a típica conversa para boi dormir. Se levarmos em consideração a quantidade de funcionários públicos e o valor de seus salários, chegaremos também à conclusão de que a manutenção do poder aquisitivo deles é muito importante para fazer girar essa mesma economia.

A diferença entre o que ganha um político é abissal em relação a nós simples mortais. E o que é pior, seja nas empresas privadas, seja nas públicas, em geral as pessoas são submetidas a concursos onde, numa grande maioria dos casos, é exigido segundo grau completo ou nível superior; em muitos casos já se exige mestrado. Uma grande parcela da classe política brasileira tem, mal e porcamente, o ensino fundamental, e, tenho certeza, jamais ganhariam os salários que ganham se estivessem na iniciativa privada ou mesmo pública. Assiste-se a uma inversão total de valores. Aqui em Nova Friburgo temos um exemplo patente disso, em que um dos postulantes a tomar assento no palácio Barão de Nova Friburgo, oriundo da classe rural do município, e com o ensino fundamental incompleto, ganha muito mais do que seus conterrâneos do campo. Os bens que juntou como político, e ele tem o mérito de declará-lo, o levaram a revelar um patrimônio de mais de um milhão e quinhentos mil reais, em muito superior ao de outra postulante ao cargo de prefeito, que após um mandato de vereadora e dois de prefeita, declarou ter dez vezes menos. Aliás, foi a mesma atitude assumida por um ex-prefeito do Rio de Janeiro, aquele da cidade da música, que afirmou não possuir nenhum bem.

Não vai aqui nenhum demérito aos trabalhadores do campo, muito pelo contrário, pois é do fruto do seu trabalho que nós matamos a nossa fome e a de nossos filhos, mas que é uma injustiça arar, plantar, regar e colher para no final vender cada unidade de couve flor por menos de R$ 0,50 (cinquenta centavos), lá isso é.

Eleitor de Nova Friburgo tenha em mente que estamos numa encruzilhada, pois ou melhoramos o nível de atuação de nossos políticos ou nossa cidade sucumbe de vez. Entre votar por ser uma obrigação ou mostrar o repúdio por esse status quo que aí está, fico com a segunda opção.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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