A incapacidade para organizar grandes eventos

terça-feira, 10 de junho de 2014

A 20ª Copa do Mundo de futebol começa amanhã, 12 de junho, e o Brasil conseguiu mostrar para o mundo aquilo que nós brasileiros já sabíamos de sobra: a nossa flagrante incapacidade para organizar eventos de grande porte. O estádio do Corinthians, o Itaquerão, terá sua capacidade reduzida em quase seis mil pessoas, pois não conseguiu fazer o dever de casa e sediará a abertura do evento a ser transmitido para 200 países, inacabado. O pior é que se alguém não conseguir entrar, apesar de ter comprado ingresso, vai acionar o governo brasileiro, pois a Fifa só colhe os louros e os lucros e o resto que se dane.

Se os estádios têm problemas, as obras de infraestrutura vão de mal a pior. A ganância do administrador brasileiro é tanta que produz absurdos como o ocorrido em Natal. Lá, o aeroporto foi inaugurado, mas o acesso, nas mãos de outra empreiteira, não ficou pronto. Assim, quem chega a essa capital nordestina vai rodar 20 quilômetros em estrada de terra batida, tal e qual nos primórdios do século passado. Será que as duas empreiteiras não poderiam ter entrado num acordo? Não teria sido melhor entregar a obra a um único empreiteiro? É claro que não sabemos os acordos, por baixo dos panos, assinados pelas autoridades federais e potiguares, mas deveríamos pensar na imagem do país lá fora. 

Tudo bem que quem vai jogar lá está igual ou pior que nós, como a Grécia e a Costa do Marfim, mas o Uruguai e o México, nem tanto. De qualquer maneira, a imprensa internacional estará presente e essa, principalmente os jornalistas europeus, está acostumada com estradas de primeiro mundo, com aeroportos bem servidos pelo transporte público e de fácil acesso. Lembrem-se de que no Itaquerão o ponto de ônibus mais próximo fica a um quilômetro do estádio. Acho que nem na África do Sul houve tantos problemas de infraestrutura. O que falarão de nós em suas reportagens?

Mas Seu Lula, idealizador da Copa aqui e presidente do Brasil na época da escolha do país-sede, não está nem um pouco preocupado, pois o presidente é outro e uma imagem negativa do país pode render votos futuros. Poderia apregoar que se o presidente fosse ele, tudo estaria resolvido e funcionando no prazo prometido. Será?

O pior é que em 2016 teremos uma olimpíada, quando, pelo andar da carruagem, poderemos confirmar que fora mulher e samba, pois até no futebol já não somos mais referência, nada mais temos a oferecer de bom. Em teoria, dois anos são mais do que suficientes para fazermos uma olimpíada de encher os olhos; no entanto, se pensarmos que tivemos sete anos para nos preparar para a Copa e deu no que deu, esse tempo será bastante curto.

Mas, já se tem coisas positivas a comentar como, por exemplo, a educação e simpatia demonstrada pela seleção holandesa. Chegaram às cinco da manhã, vindos de Paris e, mesmo cansados, fizeram questão de cumprimentar e dar autógrafos aos torcedores que os aguardavam na porta do hotel. Ainda acharam exagerado todo o aparato montado no trajeto Galeão-Ipanema. Além disso, treinam na praia, em contato direto com a população. Ou seja, sem frescuras.

Patéticos os apelos do ministro da Justiça para que a população seja patriota e não proteste contra a Copa. Será que essa mesma população, se tivesse a certeza de que os gastos não teriam sido superfaturados, fazendo a festa de políticos e empreiteiros, teria reagido da mesma maneira? 

Tomara que, ao fim da Copa, em 13 de julho, a imagem do país não saia mais arranhada e que o saldo seja positivo, com turistas estrangeiros voltando para casa e fazendo uma propaganda positiva do Brasil.


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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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