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A democracia tem de ser reinventada com urgência
Várias são as conclusões as quais pude chegar após três meses longe do Brasil. Ao contrário da década de 80, quando em função de um sistema de comunicação restrito quem estava fora do país tinha pouco conhecimento do que aqui ocorria, hoje tudo mudou. A internet tornou possível a informação on-line, uma realidade que veio para ficar. Assim, os escândalos nossos de cada dia eram acompanhados por mim à distância, bem como, através da Voz da Serra, tinha notícias do que ocorria em Nova Friburgo.
É triste, muito triste, confirmar in loco o que poderia vir a ocorrer no dia seguinte à tragédia que vitimou nossa cidade. As altas somas do vil metal despertariam a cobiça de alguns e as denúncias de desvio de verbas, que são manchetes na imprensa, era apenas uma questão de tempo, mas não tardariam a aparecer. O calvário dos que perderam tudo, a condição de mendicância que foi imposta a muitos, era motivo mais do que suficiente para que transparência e lisura no manuseio das verbas públicas estivessem acima de qualquer suspeita. A bem da verdade é um crime, uma falta de sensibilidade, de amor ao próximo, os fatos que ora ocorrem. Aliás, nos tempos em que estamos vivendo, tais atitudes não me surpreendem mais. Cabe à Justiça comprovar ou não a veracidade do que foi noticiado e punir de maneira exemplar, se as suspeitas forem confirmadas.
No entanto, a experiência de três meses na França deixou claro para mim que o grande problema do mundo ocidental, no momento, é uma questão de regime. Se por um lado a democracia, no papel, é uma forma de governo perfeita, na prática ela já era. Que fique bem claro que não sou e nunca fui adepto nem do comunismo, nem das ditaduras. Assistir a uma seção do parlamento francês causa o mesmo impacto que as seções do congresso em Brasília, um espetáculo deprimente, digno de pena. Deputados grudados nos respectivos celulares, dormindo, fazendo palavras cruzadas, cortando unhas, trocando insultos, um verdadeiro escárnio. As promessas de campanha são as mesmas e a cara de pau em justificar o não cumprimento delas, idêntica. Tudo farinha do mesmo saco.
Sem falar nas denúncias de corrupção que são uma tônica não só na França como na Alemanha, na Suíça e na Itália; a única diferença para os nossos políticos tupiniquins é que os valores lá são em euros, ou seja, duas vezes e meia a mais que os nossos. Como temos amigos nesses quatro países, a nata da economia europeia, pudemos comprovar in loco a insatisfação com a classe política, com o cinismo deslavado dos políticos e a sua quase certeza da impunidade. O descrédito e o desprezo que a sociedade devota ao homem público chega a ser chocante. A única diferença em relação a nós é que o voto lá não é obrigatório, só vota quem quer; além disso, existe punição séria para tais desvios de conduta.
Mas como a vida também nos reserva coisas simples e belas, posso dizer que a nossa estadia em Chambery foi muito boa, aprendemos muito, fizemos grandes amigos e deixamos a nossa marca registrada de brasileiros, com um churrasco de despedida para ninguém botar defeito, com muita farofa, carne de vaca (ainda bem que lá o cálculo é de 200 gramas de carne por pessoa) e muito vinho tinto, pois cerveja à temperatura ambiente, ninguém merece.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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