A crise de Gaza

terça-feira, 29 de julho de 2014

Da mesma maneira que é muito difícil escrever sobre futebol sem deixar transparecer o lado torcedor, é complicado discutir a crise de Gaza com a isenção que ela requer. Lê-se muita besteira no Facebook e nas redes sociais, principalmente aquelas que tentam comparar Israel a Hitler; ou outras que culpam Israel por usar uma força desproporcional. Tem ainda aqueles que publicam fotografias de crianças feridas, ou mesmo mutiladas, sempre palestinas, jamais judias. A verdade é que esse tipo de postura não ajuda nem ajudará a resolver a questão.

Eu sou de família judia, que sofreu as atrocidades que foram impostas pelos nazistas ao povo judeu. Visitei o campo de concentração de Belzec, na Polônia, onde toda a família Wolosker (eram 60 pessoas entre adultos e crianças) foi assassinada; visitei também o campo de concentração de Dachau, próximo a Munique, na Alemanha, onde existe um museu que faz até os mais empedernidos chorarem, tamanha é a bestialidade exposta. Portanto, a minha visão do que acontece em Gaza não é de todo isenta.

A minha visão é semelhante à de uma mãe que se transforma em super-homem, na defesa de um filho ameaçado. Se recuarmos no tempo, veremos que a história do povo judeu está sempre ligada a escravidão, discriminação, perseguição e morte. Em 29 de novembro de 1947, a ONU tomou uma decisão histórica, quando aprovou a partilha da Palestina, o que gerou alguns meses mais tarde a criação do Estado de Israel; foram 37 votos a favor, 12 contrários e nenhuma abstenção. Não houve unanimidade, pois como já dizia Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra e o presidente dessa assembleia era o brasileiro Oswaldo Aranha, hoje, provavelmente, reverenciado pelos judeus e execrado pelos árabes. 

Com a criação de Israel, o povo judeu, nômade, errante e apátrida desde os tempos do antigo testamento, finalmente encontrava uma pátria, sonho perseguido ao longo dos séculos. Será que de sã consciência existe alguém que critique o judeu pela defesa, com unhas e dentes, da terra que lhes foi finalmente entregue, para que pudessem criar seu país? Negar-lhes, de novo, a felicidade de terem uma bandeira e cantarem seu hino nacional? Pois bem, para aqueles que não conhecem a história, a primeira guerra árabe israelense data de 15 de maio de 1948, seis meses após a votação da ONU, pois os árabes jamais aceitaram essa resolução. Nesse dia, tropas libanesas, sírias, iraquianas, egípcias e transjordanianas, apoiadas por voluntários líbios, sauditas e iemenitas, começaram a invasão do recém-proclamado estado judeu. O resultado do conflito já era de se esperar, com o armistício sendo assinado em 24 de fevereiro de 1949. Nesse conflito, morreram seis mil e quinhentos judeus e cerca de quinze mil árabes. Portanto, desde o início sempre morreram mais árabes que judeus, porque estes últimos defendem sua existência e os primeiros são movidos por questões religiosas ou étnicas.

Sem condições materiais (o exército israelense é infinitamente mais equipado do que seu oponente) e de inteligência (o preparo para a guerra, não o QI), resta aos árabes o subterfúgio de tentar jogar a comunidade internacional contra os israelitas. E como toda propaganda enganosa (vide o PT), o marketing negativo é capaz de fazer a cabeça dos menos esclarecidos sobre o porquê dessa desavença. Daí o besteirol de se comparar Israel a Hitler, difundir a imagem de judeus sanguinários trucidando criancinhas e outras sandices. Mas o fato de palestinos estocando armas em hospitais, transformando escolas em fortalezas, usando seres humanos como escudos, construindo túneis para atacar Israel, isso não é divulgado.  

Lembremos, finalmente, que a Palestina era uma possessão britânica e que foi a Inglaterra quem dividiu essa mesma Palestina entre árabes e judeus; aliás, foi dessa divisão que surgiu Israel. Portanto, os árabes estão querendo tomar satisfações com o país errado. Têm de voltar sua ira contra os ingleses, não contra os judeus.

No dia em que os países árabes aceitarem o estado judeu, a paz, finalmente, poderá ser uma realidade. Mas sem essa guerra fratricida, como é que os países que ganham dinheiro fabricando e vendendo armas vão sobreviver?


TAGS:

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.