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8 de maio de 2017
Hoje, dia 8 de maio, é feriado na França, quando se comemora o fim da segunda guerra mundial, com a capitulação incondicional do III Reich, em Berlim, diante das forças aliadas. A assinatura desse armistício pôs fim a cinco anos e meio de um conflito que ceifou milhões de vidas e expôs a humanidade a uma de suas maiores barbáries.
Hoje, também, a França tem novo presidente, Emmanuel Macron, eleito com 68% dos votos válidos, sendo o mais jovem francês a chegar à presidência. Sua adversária, Marine Le Pen, obteve 32%, se consolidando como a segunda força política do país. O candidato eleito é de um partido centrista, enquanto Le Pen o é de um partido de extrema direita. Na realidade, entre um salto no escuro, se optasse por Marine e suas medidas radicais, e poucas modificações no status quo atual, o francês optou pela segunda opção.
Dois pontos que chamam a atenção no programa de campanha de Macron são muito semelhantes aos propostos por um presidente sul-americano. Falo daquele que chegou ao poder após um processo de impeachment que cassou o mandato do titular. Do alto de seus 39 anos, que nem um Dom Quixote do século XXI, o presidente francês promete cortar 60 bilhões de euros no orçamento do governo nos próximos cinco anos. Desses 60 bilhões, vinte e cinco seriam na modernização da função pública, com a supressão de 120 mil cargos; lá e aqui, haja sanguessuga. Além disso, economizaria 10 bilhões de euros com o seguro-desemprego, 15 bilhões com o seguro-saúde e 10 bilhões nas despesas com os vários departamentos que formam o estado francês. Mas, ele vai além, dentro da sua proposta de moralização da vida pública. Assim, propõe um pacote em que limita o número de mandatos a no máximo três; a interdição dos parlamentares de exercerem atividades paralelas; a proibição para os eleitos e os ministros de contratarem um membro da família e a interdição de se candidatar, para aqueles que tenham sido condenados pela Justiça.
Lendo essas propostas me lembro de uma conversa que tive há tempos com uma grande amiga francesa, em que eu dizia que a França seria o Brasil de amanhã, tamanha similitude dos descalabros da política do Brasil com a da terra de Asterix.
Tenho conversado muito com as pessoas daqui e fico impressionado com o que chamo de terceirização do primeiro mundo. As reclamações com relação a saúde pública são idênticas nos dois países. Uma consulta médica demora no mínimo três meses e, dependendo da especialidade, pode dobrar o tempo de espera. Atendimento odontológico nem se fala, pois esse não é coberto pelo seguro-saúde. Reduzir o seguro-saúde?
Apesar de estar com a taxa de inflação estabilizada há muitos anos, o preço dos produtos está sempre em alta e o francês tem de fazer das tripas coração para ter uma mesa farta e de qualidade. Além disso, a taxa de desemprego, principalmente entre os jovens, chega a 10,2%. Num país com 67 milhões de habitantes é uma cifra importante. Reduzir seguro-desemprego?
Um outro fator que chama a atenção é o desprestígio que atinge os professores. Esses são desrespeitados pelos alunos que jogaram por terra a hierarquia que deve imperar numa sala de aula. Também se tornou comum aqui a agressão de professores patrocinada pelos alunos. Além disso, como no Brasil, os pais estão abrindo mão do seu dever de educadores e querendo transferir essa responsabilidade para os mestres.
A assinatura do armistício, em 1945, não tornou a humanidade mais sensata e propícia à paz; as guerras e rebeliões enfrentadas pelo mundo tanto na segunda metade do século XX como no início do XXI, são provas dessa afirmação. Também não acredito que Emmanuel Macron consiga dar uma guinada na trajetória da França. As medidas para isso, medidas de choque, acabarão por minar a sua popularidade, sem contar que ele vai depender muito de ter ou não o parlamento a seu favor. Se conseguir, terá com certeza inscrito, apesar de jovem, seu nome na galeria dos franceses que contribuíram para o fortalecimento da França.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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