Vice e versa (parte 2)

Nessas idas e vindas que a vida me faz dar, lembro de um dia em que cheguei em Friburgo e fui à rua com minha mãe. Eu estava com uma calça na altura da canela, uma camisa social branca, um lenço no pulso e outro amarrado na cabeça. Um par de Havaianas, uma bolsa-sacola gigante a tiracolo. Caminhamos naturalmente pela rua — bom, naturalmente para nós, pois os demais transeuntes estavam assustadíssimos comigo. E eu só me dei conta disso quando um amigo gay me perguntou se eu andava sempre com minha mãe na rua daquele jeito. Ele estava espantadíssimo! Imagine essa cena há 20 anos atrás. Hoje vejo que era demais pra época.

Fui jurado do evento Batalha de Blogueiras, realizado na última semana, e me deparei com o Raul Braga. Eu estava sentado e o avistei de longe, e quando pude fui até ele para pedir pra fotografar. Raul, assim como eu, mais novo e estudante de moda, (na verdade acho que seremos sempre estudantes) estava super estiloso e com peças que são ditas pela sociedade femininas. A Mariana Monnerat, que era uma das blogueiras, estava com um look super bacana com uma T-shirt de banda que foi ícone de uma geração — e no começo usada só por meninos.

Aí eu te pergunto: você sabia que as botas, hoje ícones femininos, foram usadas primeiro por homens? E as bolsas e as calças antes eram apenas acessórios masculinos, e, como disse semana passada, túnicas eram usadas no Egito antigo, saias em Roma e por assim vai. Onde começou essa chatice de que homem não pode isso ou aquilo?

Mulher pode pegar tudo do namorado, irmão, pai, amigo; agora, homem não! Essa caretice é típica de uma sociedade desinformada e atrasada, pois se você viaja cada um usa o que quer e ninguém está nem aí para o que outro usa.

Deixa de ser careta, meu povo, ao ponto de achar que uma roupa pode desestruturar a sexualidade. Estilo está acima das classificações. Na década de 80, os Menudos usavam leggings, calças super justas e tecidos mega cintilantes, e eram sex symbol de uma geração e crush de muitas meninas. Vamos deixar de achar que roupa pode definir algo sobre qualquer pessoa. Pra mim, a única coisa que ela diz de alguém é se ela é estilosa ou não.