Turismo e oportunismo

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Viajar é para mim uma das coisas mais agradáveis que se pode fazer (vestido, risos!). Conhecer gente, cultura, valores, lugares, história, arte... Enfim, é um sem número de vivências e oportunidades.

Mas viajar ainda é, em muitos casos, um amontoado de situações que transitam entre o acochambrado e o estruturado, entre preparado e a enganação, entre o simples e o deslumbrante. Mas o que o turismo tem em comum é que quase sempre a estrutura humana sempre faz a diferença, para o bem ou para o mal. E quando esta é o ponto fraco do processo, a experiência deixa de ser memorável e se transforma em inesquecível.

Em recente viagem, após recorrer a diversas informações com pessoas, empresas de receptivo turístico e sites, ainda assim, me deparei com desconfortos e frustrações.

Na locadora de carro vi funcionários desabafando comigo sobre condutas do colega, sobre planos de como trabalhar menos à revelia do patrão, de como faltam processos e sobre improvisação. Num lugar onde a promessa é de venda de serviço e tranquilidade assisti à pessoas focadas em si e a natureza do negócio negligenciada. Onde a experiência do turista deveria ser protegida, ficou exposta a rotina de trabalho. Quem já foi à Disney sabe que cada um que trabalha ali mantém um comportamento mágico, onde o trabalho parece não existir, onde o sorriso e as rotinas são ocultados por sorrisos e receptividade.

O turismo ainda depende, em muitos casos, de operações isoladas, que não geram uma cadeia estruturada de valor, assim belas praias padecem de conforto, percursos sofrem sem sinalização, passeios ficam entregues a oportunistas e experiências concentradas em cartéis. Nesta realidade, o turista é vítima do turismo em vez de ser presenteado por ele.

Um passeio de buggy de 10 minutos atinge o custo de uma diária de locação de um carro, que por sua vez já é tão mais cara que no exterior, ou o mesmo preço para um carro tão melhor. Nesta lógica, praias selvagens se tornam apenas praias sem conforto, rios inexplorados têm trilhas onde nos perdemos e o turismo perde sua força e o turista a vivência.

Como é possível o europeu e o americano, tão mais bem pagos que o brasileiro, oferecerem hotelaria e turismo tão mais competitivos e estruturados, ao mesmo preço ou mesmo mais barato que nós brasileiros? 

Nossas praias com tantos recursos naturais, tão mais bonitas que Miami Beach, com tamanha capacidade de atrair pessoas, têm espreguiçadeiras feitas de árvores nativas, cheias de farpas e pregos enferrujados; com tantos coqueiros por todos os lados, nenhuma água de coco gelada para se beber, com tanta mão de obra disponível e tanto trabalho por fazer, tanta gente pedindo e vendendo quinquilharias feitas em escala e sem capricho.

Nosso turismo precisa se profissionalizar. Nosso turista ainda precisa ter muita paciência e dinheiro; antes de comprar, negociar muito os preços para fugir dos oportunistas. Na verdade turismo ainda se confunde em muitos lugares com oportunismo, pela falta de política coordenada, quer seja pelo estado, quer seja pela iniciativa privada. A falta de visão em coletar reclamações e melhorar processos, a ausência de auditoria e estratégia, ainda define o destino de muitos municípios, lugares, turistas e divisas.

Mas, como diria o poeta, viajar é preciso.


"Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de Administração e Gerência da PUC-Rio, pós-graduado em Engenharia Ambiental, professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação.”

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