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Substantivo concreto
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
Pergunte para o vendedor o que ele vende e a imensa maioria responderá convictamente com um substantivo concreto: carro, bola, alface, perfume.
Se você tiver sorte ele te responderá o nome de uma categoria: transporte, esporte, comida, cosmética.
Quaisquer das duas estão lhe vendendo a coisa errada, da forma errada e certamente pelo preço errado. Neste tripé simples, já saímos de todo e qualquer preceito do marketing que determina que tudo esteja corretamente alinhado, mas o mais grave é a convicção com a qual isso é feito e o não entendimento do fato que vendemos um benefício, um serviço.
Nesta lógica vale o estilo, convivência com amigos, vida saudável e autoestima.
Na semântica do consumo quem entrega produto abdica de entregar serviço, assim assumimos a posição de abandonarmos o sujeito sem adjetivo, o substantivo sem pronome possessivo, o verbo sem conjugação.
Na pobreza do verbo comprar sempre no infinitivo pela incompetência de quem vende, perdemos poesia e satisfazemo-nos com palavras rasas, de uso coloquial e perde-se métrica e ritmo.
Vender serviço obriga a entendermos o tempo verbal do cliente. É preciso saber interpretar o texto, identificar precocemente o sujeito, entender que adjetivos ele tem e quais mais ele deseja, é preciso saber os advérbios, aqueles que não variam, para compreender o que ele não está disposto a negociar ou a ceder, ler as entrelinhas da conjugação e entender em que pessoa e em qual gênero está.
A venda de serviço envolve a completa compreensão do cliente, traz o vendedor a uma nova esfera não de sujeito indeterminado, mas de sujeito composto, ou seja, o vendedor faz parte da ação e não um mero complemento da oração de compra.
Precisamos abandonar as conjunções condicionais – SE – e buscar comprometimento incondicional, em qualquer caso, enquanto vendermos substantivos concretos, as relações serão com sujeitos indeterminados e os resultados serão no passado. Para definirmos futuro nos negócios é preciso mudar o tempo verbal e conjugar ações que deixem o sujeito na primeira pessoal do plural acompanhados do adjetivo feliz com o verbo ser no presente, e isso só será possível com uso de substantivos abstratos oriundos do serviço executado em concordância em gênero, número e grau com seu cliente.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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